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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

A felicidade possível...

Quem não tem rosas,  colhe qualquer flor do campo  e coloca sobre a mesa:  no jarro mais simples do mundo.

Dar adeus...

Dar adeus é dar à Deus nossa vontade de ter ficado. Para Iza e todos que sofrem por dar adeus...

O despertar da realidade

No sonho, acordava no teu barco. Preparava o desjejum como se assim o fizesse há séculos. Uma mecanicidade autêntica das donas de casa e de seus homens. Embora o mar estivesse marulhento, conseguia equilibrar coador e pó. Depois, arrumava tudo numa bandeja, forrada com um pano bordado delicadamente com nossas iniciais e levava para ti. Tu não estavas, e a cama arrumadíssima denunciava que era hora de despertar, inclusive, da realidade. Do livro Ali longe no mar, de Solineide Maria de Oliveira. P ublicado em 2010. Editora Scortecci (SP).

Poema de esperar alguém

Espero-te tranquila do alto dos meus medos, pensando as alegrias que tuas mãos trarão.  O gosto do teu beijo, a fala singular,  teus braços enredando meu melhor endereço.  A vida mais segura. Quem sabe até sem peso...  Espero-te serena contando as madrugadas,  escrevendo poemas que já chegam crescidos.  Poemas já pensados, poemas já vividos,  poemas que vingaram por conta do teu riso.  A vida mais bonita por conta dessa espreita.  Eis que quando aqui abordes, tenhas cuidado comigo.  De tanto esperar, tornei-me mui simplória.  Espero-te tranquila abobalhadamente.

Resposta a lápis

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Professor Doutor em Linguística Odilon Pinto lá atrás, o mestrando Agildo (meu amigo) Vale, quando lhe aprouver, uma poesia a lápis,  dizendo do escuro em que me encontro,  das dúvidas  que terei a duras penas  de extirpá-las  do meu cérebro confuso?  Vale dizer que sinto  amor  pela sabedoria,  mas os vales me afastaram para longe,  e só agora ch eguei nessa "torre"?  Vale dizer que li muita coisa,  mas não sei tudo...  E que li muita coisa,  mas entendi pouco?  E valeria ser tão franca,  mas tanto,  a ponto de chorar e de sorrir,  tendo nas mãos apenas incertezas?  Vale alguma coisa a minha humildade?  Tem mesmo pouco valor algumas palavras a lápis?  Uma carta, um bilhete,  “um verso talvez, de amor?”    Março/07  Para o Maravilhoso Professor Odilon Pinto de Mesquita Filho.

A coleção da vida

Do tempo vivido escoado pela vida, ficaram essas lembranças, formaram-se essas feridas. Todas têm nome e cor: as lembranças e as feridas. Ao redor, a alegria contornada com caneta-luz: para ofuscar as feridas e enfeitar as lembranças.

VISITA

Sua casa cheirava a esconderijo de mulheres solteiras e solitárias. Dentro dela não cabiam vozes. Apenas sussurros, no máximo. No máximo...  Sua casa abrigava móveis novos  e seminovos. A cabeceira da cama evocava o passado, talhada em madeira nobre. Representava o romantismo  que não havia em você.  Você não era bom anfitrião,  sua casa era. Sempre a dizer com oferenda: - entre moça, descanse em mim. Você, não dizia palavra. E sua mudez não representava nada, além da presença distante do seu rosto. Mastigando palavras que jamais, em nenhum instante, pronunciaria. Sua casa dizia,  toda vez que eu saía prometendo que nunca mais voltaria: - Vá moça, volte rápido para casa, e espere o tempo que a tudo vaporiza. Você não dizia palavra... Eu já nem escutava as palavras serem ruminadas por você. Eram engolidas... Mas silenciosamente? Então eu partia, insignificante. Ia ter com você solitária,  e voltava desfragmentada... Partia - derramada- para casa.

Inscrição no diário (sobre um amor infinito)

Essa tímida presença sua está nos meus olhos: ouça.  Ainda ouço seus passos a caminho do quarto, entenda.  Sou meio louca, mas te amo.  Parece que vou morrer, não sei, parece que vou chorar...  Foi um dia tão bonito...  Não sei o que fazer para recomeçar, para insistir.  Fico relembrando o seu sorriso, cor de prata, cor de lua na praia.  Eu perdi.

Exclusões sucessivas

O passado me persegue.  Toma formas de pessoas  que poderiam  ter me escolhido  e não escolheram.  Que poderiam  me amar  e não amaram.  Que foram embora  e não avisaram.  Que poderiam ter ficado  e não ficaram...

Convite

Você não sabe, mas pode descobrir, a s pessoas que amo, são eternas dentro de mim.  Você nem desconfia que ainda acredito no amor: mas pode descobrir.

Pedido

Deixe-me lavar seus pés e enxugar suas mãos com minha sede de Vida, de Verdade, de Conhecimento, de Amor. Leve-me contigo aonde for...

Palavras invisíveis

O que dizer para o cansaço?  E para a solidão, o que dizer?  De todas essas inúteis investidas,  de todas essas palavras desperdiçadas em  papel de carta,  papel ofício,  papel de pão,  papel madeira,  papeis com palavras invisíveis.  Invisíveis  eis,  eis,  eis...  Que ninguém consegue ouvir. São Paulo - 2004

OUTRO JARDIM

    Vi aflorar outro jardim todim. Depois de uma ventania secura de terra dura. Vi aflorar. Durou somente o tempo de lembrar que flor existe e que nem tudo é triste: que há tempo bom, tempo ruim... Vi aflorar. Ensinou-me que também não auxilia demorar muito  no jardim velho, jardim cansado... Vi aflorar. Durou pouquim. Logo o vento arrastou a flor-alegria, a flor-querer, bem querer. Vi desflorecer. Mas tudo ficou  na lembrança, e o coração antes morno, fora aquecido. Aprendi outra lição, pois que todas são importantes. Meu pé de amor ninguém derruba! São Paulo - 2003

450 ANOS DA CIDADE-MÃE

Eu pego o metrô news, mas vou a pé.  Vejo o dia alargar-se para a vida dos transeuntes,  viventes e passantes.  Passageiros da vida diária,  seguimos para o trabalho:  para pagar o aluguel,  a comida,  a luz,  a água,  o gaz  e o telefone.  Vejo o dia alargar-se  pesando feito dilúvio  na vida dos pobres de tudo,  dos desgraçados da sorte,  dos que não dormem  e nem acordam,  nos passeios,  nos viadutos,  nas vielas,  pontos de ônibus. Alguns postes,  algumas portas  de casas  e de lojas.  Parecem destroços de uma vida,  não parecem vida humana... Não aparentam ser cão,  nem gato.  Não aparentam ser nada... Eu pego o metrô news,  mas vou no sol,  na chuva,  no calor,  no frio.  Vejo a cidade abrir suas asas descompostas,  pesadas há muito tempo,  não cabe mais gente aqui,  não cabe mais nada aqui.  Sinto pena da cidade maltratada,  maltrapilha,  malfadada,  mal amada,  mal amanhece  outro dia.  Sinto pena da cidade,  crescendo feito m

Abacate

Quero amadurecer quando for colhida.   Lá na minha árvore,  lá no meu pé de mim,  embirrado e miúdo,  quero ficar até que você olhe.  E minha casca, lisa e brilhante,  não será prejuízo.  Minha polpa agradável e leve,  será para você,  minha paga,  sua recompensa.  E não acelere o processo de maturação,  porque meu coração verde musgo,  já lhe pertence.  E quando for me usar,  abuse de tudo em mim,  e plante lá na minha árvore,  ao lado do meu pé de mim,  o meu caroço, de volta.  Que sou doce,  ou salgada,  como quiser,  vou ser seu abacate,  acate,  cate,  ate.  Até.  Solineide Maria Este poema está incluso na Antologia Caleidoscópio, publicada pela Editora Olho D'agua, ano 2004.

Quando crescer, quero ser feliz!

Meu pai e minha mãe, Desculpem esse seu filho que quer ser simples e pobre. Não quero crescer, se para tal for necessário sentir melancolia. Não quero... se para isso tenha de sentir esse bicho  que arde em meu coração. Quero voltar pra fazenda. Plantai meu peito em vocês: wm nossa casa, nossas coisas. Se a paga de ser maior for  chorar, sofrer,  partir, prefiro o cheiro do café saindo fresco e seguindo direto pro coração. Café-amor, café-silêncio, café-paz. Pro futuro, desejo ser boiadeiro. Apenas isso, não quero nada demais... Dedico este poema-quase-prosa à minha queridíssima irmã Neide e aos Caboclos Boaiadeiros .

Folha em banco

Eu fui um poema bonito. Nem de amor, nem de remorso, nem distinto, nem incoerente. Fui um poema.  Depois você apareceu, leu aquele poema-eu. Recitou-me em voz alta e baixa. Mandou cópia daquele poema-eu para seus outros sentidos.  Apresentou-me para os seus amigos, usufruindo do lírico que havia em mim.  Depois passei um tempo silenciado. Apenas registrada naquela folha, deslembrada, em meio a uns livros antigos. Enfeite de estante. Passado.  Percebi que dali eu não mais sairia.  Você já nem lembrava mais, aonde teria me esquecido. Estava prestes a tornar-me, novamente, uma folha em branco.

E fez-se a escuridão...

Quisera não ter visto a luz, porque a escuridão hoje não seria tão dolorida. Levaste a claridade quando te despediste.

Hai Kai - ou vontade de escrever um...

A bruxa gosta de pera, mas o verão murcha tudo, até apetite de feiticeira.

Perguntas sem respostas

Como é que se vive sem você?  Como é que se olha sem lhe ver?  Como é que se caminha sem lhe encontrar?  Como é que se respira sem lhe cheirar?  Onde é que se chega sem lhe alcançar?  Como é que se aprende sem lhe entender?  O que é que se faz sem ter você?  E como se progride sem sua mão?  2001

A gente devia amar direito

A gente devia amar direito. Abrir o coração de um tal jeito, que nada poderia dar errado. Mas eis que o modo nosso de amar, esbarra no tal desejo de tomar: de ter, de ficar, de se apossar... Nisso o coitado do verbo amar, acaba na intenção de acertar: o ritmo, a pessoa e o lugar.

Ectoplasma

Meu ectoplasma está com asma, febril, assediado de nadas existenciais... Meu ectoplasma se esbarrou no anil  que usaria na camisa de passear. Meu ectoplasma quer enfartar... Acho que está mais pra lá do que pra cá.

ATRAPALHO?

Atrapalho? Se chegar antes da hora, se comer a única pera do prato, se correr depois do abraço, se sair antes do papo. Atrapalho? Se leio baixo, se leio mal, se leio pouco, se me lamentar, Atrapalho? Se insistir numa ideia, se acabar chorando, sorrindo, se me acabar por nada. Atrapalho? E se lhe abraçar um tanto falho, ficar olhando suas mãos, seus pés, suas unhas, seus olhos, e não disser palavra:  atrapalho? Sou, mesmo, um pouco atrapalhada... Mas se não lhe fizer mal, nem bem: atrapalho?

O DESÂNIMO DO DIA

O dia acordou e não quis levantar. Permaneceu deitado, olhando pela janela-vida. Não se animou nem com o cheirinho do café, que saía de todas as cozinhas do mundo.