VISITA

Sua casa cheirava a esconderijo de mulheres solteiras
e solitárias.
Dentro dela não cabiam vozes.
Apenas sussurros, no máximo.
No máximo...


 Sua casa abrigava móveis novos
 e seminovos.
A cabeceira da cama evocava o passado,
talhada em madeira nobre.
Representava o romantismo
 que não havia em você.


 Você não era bom anfitrião,
 sua casa era.
Sempre a dizer com oferenda:
- entre moça, descanse em mim.
Você, não dizia palavra.


E sua mudez não representava nada,
além da presença distante do seu rosto.
Mastigando palavras que jamais,
em nenhum instante, pronunciaria.


Sua casa dizia,
 toda vez que eu saía
prometendo que nunca mais voltaria:
- Vá moça, volte rápido para casa,
e espere o tempo que a tudo vaporiza.


Você não dizia palavra...
Eu já nem escutava as palavras
serem ruminadas por você.
Eram engolidas... Mas silenciosamente?


Então eu partia, insignificante.
Ia ter com você solitária,
 e voltava desfragmentada...
Partia - derramada- para casa.


Esperarei o tempo,
que a tudo vaporiza.
Lembrarei com carinho
de sua casa.


Para todas as moças que visitam criaturas que nunca se decidem...
POEMA ESCRITO EM 1994. 
Estava nos papéis quase mortos.

Comentários

  1. que poema belíssimo!!!!
    E profundamente melancólico. Amei Soli!
    Lili (SP)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Análise do poema Olha Marília, As Flautas Dos Pastores - de Bocage

Poema para Pedro

Abacate