Cartas de Amor para o meu coração. (Solineide Maria)

 Luanda, 08 de Abril de 2021.

A chuva sempre me leva para a casa aonde estão meus dias. Um pretexto para botar em uso todos os baldes e bacias e panelas e tachos, nas pingueiras da casa: salas, quartos e cozinha. Para os pequenos era festa, brincadeira, diversão. para minha mãe era perda nos minutos do seu tempo precioso. Lembro dela sacudindo as mãos na pia de lavar roupas (lavanderia) para espirrar toda espuma do sabão em pedra e chamando todos para a operação. Depois havia de enxugar o chão, recolocar os móveis no lugares lavar os panos de chão. havia de estendê-los no murinho de cimento cru ou no varal de arame farpado rente à parede da casa do lado lateral de fora da casa. Mesmo cansada, depois do seu banho da tarde, 17 e 30, ela concebe o café de coador de flanela. O inigualável café de minha mãe. Ele cheirava mesmo antes de estar pronto, porque ela mexia inúmeras vezes o pó na água, para lá e para, em círculo e retomava os passos até quando coava na panela "bujuda" como ela chama. No tempo da infância isso tudo é mistério: como sabe a hora certa de coar? Como não derrama? Como fica tão bom? Meu deus... Gratidão. Quanta lembrança boa. Quanto de bom para rever nessa janela chorosa da chuva de Savana daqui desse ponto do Planeta. Tão longe disso tudo, mas tão mais perto disso tudo, justamente pela lonjura física. Essas lembranças me acompanham em forma de vapor de chuva ou de sol. Mas nos dias de chuva, elas aquecem meu coração. Vi minha mãe dizendo, ao olhar pela anela: "acho que de madrugada vai cair o mundo, não vou desarrumar os grandes móveis". (rsrs) Meu pai a esperar o café na cadeira concebida por ele, diz em tom de cutuque: "Você podia trabalhar no Jornal das 8". (kkkkk) Provocação, claro... Eu também acho que ela poderia prever o Clima sim. Sempre acertou. Ele fazia assim um pouco para zoar com ela. Mas às vezes ela deixava passar. Nessa lembrança em especial ela deixou passar. Estava cansada. "Dudu ajuda aqui pegar esses lindos panos de chão" (ela se zoava a si mesmo). "Quero me aquetar para rezar meu Terço".
Muitas vezes, a chuva na anela é a saudade enxaguando as o chão das memórias.
De Dudu para minha mãe e meu pai.

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