O DESABAFO DO ALDIR

Sonhei com o cronista, talvez por ter ido dormir um pouco perturbada com a pergunta infame do "fã" do poeta Aldir, sobre o que ele tinha feito do dinheiro dos grandes sucessos que compôs… No sonho ele me explicava que a "Arte é um negócio maluco, se você não tem alguém para lhe orientar Sol de Solineide, melhor aprender." Estava incrivelmente calmo, apesar de apresentar uma respiração bastante ofegante. Trazia máscara e tudo o mais. Eu também. Para além das máscaras (minha e dele), o notável compositor estava dentro de uma espécie de bolha plástica, no centro da sala de casa. Depois de uns minutos ele narrou como se sentia e disse que estava muito comovido com a despedida do Moraes. Um pouco sério me perguntou se achava que ele ia falar com o Moraes pessoalmente. "Não tem graça", respondi. Também entendo sobre as dificuldades de ter acesso ao mundo da arte letrada amigo. Porque tem a arte descomposta... sorri sem graça. Ele deu um riso bom e disse que me entendia. Talvez por ter ouvido muitas canções dele, ontem, sonhei com o Aldir. Talvez por conta dessas dúvidas todas e todas relacionadas com o futuro, tenho sonhado com as pessoas que mais gosto e admiro. As que conheço e aquelas que “conheço de longe”: cantores, escritores, poetas… O Aldir estava cansado. Um pouco triste por sua filha ter de recorrer a uma rede social para pedir ajuda financeira para seu internamento. Estava constrangido… No entanto, também estava comovido pela atitude tão nobre da filha: atitude amorosa, atitude de zelo. Um pedido de socorro. Uma declaração de amor escancarada. De tanto que falou, emocionou-se. Pedi para ficar quieto um pouco, para calar um bocadinho. Daí ele pediu que eu deixasse meu celular em modo gravação e obedeci seu pedido. Então ele fez um desabafo: “Não é por dinheiro que ela pede ajuda, ela é uma riqueza sem avaliador. Ela tem um homem imenso de amor e de dor num canto de um um hospital. Somos iguais em tudo eu sei, todos nós estamos sofrendo a mesma dor. Não julgue minha filha... Não julgue o poeta. Não julgue o escritor. Não julgue o cantor e o compositor. Se não tem dinheiro o nobre menestrel, não é o momento de cogitações. Ainda escutas minhas composições? Tens tudo tão fácil... Ao alcance das mãos... não dás um centavo só basta clicar: Clara Nunes, Elis, Nana, Mestre Sala das Letras... Podes saborear. Dizes que és meu fã... Será? Guarde seu dinheiro, não vou precisar. Amanhã vão me transferir, espero viver. Quando sair daqui vou compor uma canção para agradecer aos que entenderam de amar, de viver, de Arte e de Ser ... mais do que ter, pois que ninguém tem nada. Tudo é simples brisa.” Acordei. (Solineide Maria - Luanda 16 de Abril de 2020)

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