"MADURIDADE"

Velhos papeis com palavras que aspiravam virar versos. Cartas respondidas, algumas sem nenhuma lógica... Muitas com lógica em demasia. Quais dos amigos (as) ganhou em número? Quantos (as), em qualidade? Que bobagem, a carta, mesmo lacrada, já trazia imenso valor. Ainda naquele momento, tantos anos depois, valeu ler novamente.
Pedaços de giz, alguns lápis pequenos,toco de lápis, botões, botões, botões (rsrs). Para que tantos botões? Não há vestígio de memória de que construí fortuna a vender botões e depois perdi... Nem artesanato fiz... (rsrs)
Canetas coloridas, já esvaziadas com os lacres intactos... Deve ter sido algum espírito escritor (a) que compôs os poemas que não detectei...
Muitas fitas de cetim, estas, lembro perfeitamente, foram usadas por Flora infante... Deu para vê-la a dizer: Aamarra mais forte minha mãe, para não cair na hora do Recreio."
Cartões de Natal, cartões de Natal... Muitos cartões de Natal! O que é Natal? Uma voz perguntou-me à consciência... A campainha toca e o Funcionário da Limpeza Urbana pergunta se pode levar um amontoado de caixas de papelão, organizadas dentro do quintal. Após responder positivamente, volto a me perguntar em voz alta o que é Natal. Não notei que o trabalhador ainda estava ali perto do portão, quando ouvi sua voz a responder que "Natal é uma data comercial". Penso que ele tem razão...
Uma caixa com carimbos infantis, borrachas, borrachas, borrachas... (rsrs) Para que tantas, penso...
Vestidos que não cabem no corpo (nem na idade), sapatos em decomposição ou de salto gasto...
Meu pai disse que minha idade é uma nova mocidade. Gostei... Pode ser.
Minha mãe disse que a gente guarda muita lembrança à toa... Pode ser.
Fiquei mais leve. Desfiz de muita coisa material. Não consegui desfazer-me de algumas cartas. Doei muitos livros, muitos, muitos. Fiquei alegre.
Guardo todas as fotos, são para a posteridade. Herança para minha filha Flora Maria. Nessa idade, ainda guardo papeis e livros, porque ainda acredito na escrita e nos estudos. Penso que sempre vou guardar livros, dão-me alegria, paz, carinho.Também penso que continuarei a escrevê-los, ainda que não os publique.
Enquanto realizava esse limpamento, contava a idade das lembranças. Percebi que lembrança não tem idade... Percebi mais do que isso: senti, que nenhuma lembrança vira porcaria e, que se caducam, trata-se de um processo puramente físico. Que sensação boa.
Acho que estou na "maduridade".

Solineide Maria

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Análise do poema Olha Marília, As Flautas Dos Pastores - de Bocage

Poema para Pedro

Abacate