feijão com arroz


acredito que amar é assim, a vida toda um perto do outro, juntos. mesmo quando estão entendendo que não conseguiram, ainda, o melhor jeito de amar. não julgo mais o jeito de amar de ninguém, porque eu tenho de julgar a mim mesma. faz pouco tempo comecei a me julgar. tenho me culpado quase todas as vezes. ordeno de mim para comigo, prisões longínquas. hoje, por exemplo, fui solta de uma prisão em que estava faz uns anos, mas fui condenada novamente, por recalcitrar no erro de falar muito. dessa vez fui para a prisão da terra da mudez. ficarei alguns meses. por isso voltei a escrever. comecei a ler mais, novamente. tenho percebido o motivo de os extra-terrestres se comunicarem por telepatia: o pensamento sai direto da fonte, sem desvios, sem lixos emocionais. a emoção vulgar é que suja a linguagem. estou a perceber... mas voltando a foto de meus pais, devo dizer que estão se acertando bem. um dia desses ela disse assim "Louro é bom esquecer né? daí você esquece as besteiras que já dissemos". amo minha mãe.
ele se riu tentando fazer um cigarro de fumo.
outra noite ele perguntou-cuidando: "regina, você manda todo mundo comer, mas você só fica nesse pão". amo painho.
se pudesse escolher, gostaria de conseguir ficar calada feito o mestre dos magos. na convivência de meus pais, percebi a dificuldade de minha mãe em falar pouco, mas como! seis filhos, 5 mulheres, importante frisar... o pai passava menos tempo em casa, trabalhando fora. a mãe quase enlouquecida de tantas tarefas... tanta gente pra cuidar, tantos sentimentos... falar era sua terapia. amo minha mãe. amo vocês assim juntos, calados, falantes, esbravejantes, cansados, cheios de compaixão. juntos. mesmo com imensas diferenças: feijão com arroz.
(solineide
luanda, 06 de abril de 2018)

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