Dois sonhos e um pesadelo

Tive um sonho estranho
maluco feito agenda
que a gente escreve
e não cumpre.
Sonhei que era assim
tipo
uma aprendiz de  bruxaria
e que um lobo me via
e queria me pegar.
A ideia que me dava era
a de flutuar.
Tomei um líquido lá
feito assim meio às pressas
e tomei de um gole só.
Realmente flutuava,
era uma espécie de
levitação forçada.
O lobo não desistia,
saltava alto
e rosnava,
até cuspia de bravo.
Foi quando dei um impulso
naquela levitação
e caí num morro alto,
uma espécie de montanha.
Caí em cheio num tronco
desses de cortarem lenha.
Suspirei aliviada,
mas não deu
para um descanso.
Um homem viu
aquela cena,
eu surgindo assim,
do nada,
certamente estranhou.
Pensando que era
uma espécie de
bruxa, fantasma
ou danação,
endereçou o machado
ao meu peito.
Num gesto desesperado
botei as mãos na cabeça
e chamei por  Deus,
Nosso Senhor,
Anjos, Santos, Arcanjos.
Chamei por São Bento,
São Tomé,
Roguei pelos
Irmãos da Luz,
tudo isso
num triz de segundo.
Foi quando dei noutro sonho.
Fui salva assim
pelo gongo!
No outro sonho estava
numa espécie de labirinto
que desembocava
numa escada.
A escada tinha degraus
num piso muito liso,
muito escorregadio,
todo cuidado era pouco.
Consegui descer com calma,
mas no fim havia
um lugar que deveria passar,
mas as cabeças das pessoas
deveriam caber naquele
espaço,
A escada desembocava
num estreito espaço
pensado por um
engenheiro enlouquecido...
Confiante em Deus e
Nossa Senhora da Cabeça
enfiei minha cabeça
naquele espaço exíguo.
Graças a Deus que deu certo,
desemboquei numa sala
onde todas as pessoas
esperavam ser chamadas.
Uma placa avisava
que era Sala de Entrevista.
Pensei assim meio calma,
deve ser para emprego.
A Entrevista era para
distinguir entre os presentes
quem tinha lido uns títulos
de uma lista cuja
o questionador indicava.
Lá estavam muitos títulos,
livros de uma vida toda.
Livros grandes,
livros imensos,
livros de rara extensão.
Livros que salvariam vidas,
livros que ofertariam pão,
o pão da palavra humanidade,
o pão da palavra paz,
o pão da palavra fraternidade,
o pão da palavra amor.
etc, etc, etc.
Lembrei-me logo de Sócrates...
Depois lembrei de Dulce,
a Irmã que aos treze anos
lia para os doentes na rua...
Lembrei de Jesus;
"No mundo tereis aflições"...
Antes de ser inquirida
novamente,
aquele homem uniformizado,
com a cara muito endurecida
disse que estava demorando
de responder.
Foi quando então confessei
que não sabia o que fazer
com aquele papel riscado.
"Doutor Polícia, nunca
aprendi a ler".
Como estava suja e desalinhada
vinda daquele sonho medonho,
onde um lobo me perseguiu
e um lenhador quase me parte
ao meio,
o polícia acreditou.
Disse assim num tom
muito debochado:
"Deixa essa infeliz pra lá
não sabe ler, é pobre e
é feia. Vai morrer de inutilidade".
KKKKKKK
Gargalhou o cão feroz.
Dos três sonhos terríveis
dessa noite,
o que posso considerar pesadelo
é o que narrei por último.
Os outros dois
foram pura fantasia.

(Solineide Maria, Luanda 28/04/2019)



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