Luanda, 12 de Agosto de 2018.

Pai,
sei que você não vai ler essa carta hoje. Talvez leia quando eu for em Itabuna em Janeiro de 2019 (férias de trabalho, etc. etc.)

Só quero reafirmar que sempre te amei. Mesmo sem dizer e ainda que tenha falado muitas vezes. 
Sempre respeitei seu silêncio, sua vontade de ficar quieto num canto, numa cadeira, no sofá. Mas também puxava e puxo conversa. É que os assuntos mudam e a vida "se apequena",

Tenho saudades do Sr. quando voltava da roça com aquelas frutas tão bonitas. Bananas, cajaranas, cacau e tudo o mais que a roça presenteava pelo seu trabalho, de mainha, de Sol. 

Sempre, sempre agradecerei por ser meu pai, pai de Flora e agora "avohai" de meu neto.

Peço e pedirei sempre perdão por ter sido uma filha menor, no sentido laico da palavra. Talvez nessa encarnação aprendi a ser pequena por muitos motivos, mas não quero me vitimar, estou em processo de contrução diária.

Lembro de tudo painho. Das sandálias havaianas que hoje são chiques e circulam nos pés dos artistas, das bonecas de plástico da feira de Domingo, das cadeiras e bancos de madeira que o Sr. fazia, machucadores, dos brinquedos da empresa que trabalhou mais de 35 anos...
Lembro de como sempre se satisfez com as músicas sertanejas e que até hoje é o que leva seu coração para um território onde a paz existe no âmago de sua alma.

Lembro de tantas coisas painho... Impossível descrevê-las todas elas num texto pequeno, vulgar e sem valor estético.
Eu só quero agradecer por tudo. Quero agradecer por ter me recebido, cuidado de mim, me alimentado, ter me passado valores morais-éticos. 

Quero agradecer por ter me dado a oportunidade de estar aqui no Planeta, através da doação da vida de sua vida e de minha mãe.
Te amo painho.
Assinado: Duduzinha (como o Sr. sempre me chama).

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