Chegou um pouco aluada
olhou-me e pediu sem força
quase:
"Tem café"?
Falou sobre os horrores
atuais,
disse que anda com dores
intermináveis,
que a decepção lhe alcançou.
Não quis caneta,
lápis,
papel,
computador...
Quis mais café,
café,
café...
"Se café aumentasse
nossa fé,
não é poeta"?...
Brincou, sem graça...
"Como é que a gente
sobrevive minha amiga"?
Sussurrou,
quase...
E caiu em meus ombros.
"É tanta notícia ruim,
tanto crime hediondo,
tanta tortura,
tanta falta"...
(Chorou baixinho e quieta).
"Como falar poeticamente,
como sobreviveremos"?
Disse-lhe que o Mundo precisa
Dela,
que as crianças,
os bichos,
as florestas,
que o Planeta mais do que nunca
precisa Dela.
A Poesia abraçou-me longamente,
soluçou feito criança,
até suas lágrimas dolorosas
destemperarem o café...
"Faz mais café"?
Enxugando as lágrimas
pediu-me...
Luanda -
(Sol Maria)
|
FOTO DE SOLINEIDE RODRIGUES. |
Comentários
Postar um comentário