WEZA, A PEQUENA ZUNGUEIRA
Terça-feira,
24 de outubro de 2017
WEZA,
A PEQUENA ZUNGUEIRA
(PEQUENA NARRATIVA PARA PEÇA DE TEATRO, BASEADA
NO CONTO DE ANDERSEN, A PEQUENA VENDEDORA).
PERSONAGENS
Weza
(vendedora – personagem principal)
Pai de Weza
- Sr. Bocoio
Mãe de Weza
- Dona Deolinda
Dona Muxima
Sr. Paka.
Avó
(espírito – sonho)
Pessoas a
andar na rua (figurantes)
Duas
famílias: pais, mãe, irmãos, tios etc. (a menina vê pela janela)
Crianças
Narrador
personagem
Era
tarde de Natal em Luanda, weza estava em casa no Bairro Capolo a preparar a zua
para sua mãe que estava incomodada, quando seu pai diz quase em berros:
(Pai) _ Weza deixa de mangoia e vai vender!
(Mãe) _ Bocoio, não precisa falar assim com a
Weza. Ela é muito boa menina. Calma.
(Pai) _ Calma? Você viu como vendi pouca Cuca
em plena tarde de Natal? Como vamos comprar a comida na semana que vem?
(Weza) _ Pai é Natal! Deixa só ficar em casa
hoje ya pai?
(Pai)_ Não me faça repetir!
A
menina, cansada de tanto mexer a mukua para o zua, vai à busca de sua chinela
para ir vender.
A
bacia estava cheia de lanternas que seu pai comprou no mercado para vender
pelas ruas de Luanda.
Weza
ia muito triste pelas ruas do Capolo até
a Rua principal da Comuna do Palanca. A bacia pesada para uma menina de apenas
8 anos de idade fazia Weza parar muitas vezes para descansar.
Chovia
muito, era Dezembro em Luanda. A chuva começou a ficar muito mais forte e Weza
foi obrigada a procurar uma cubata.
Enquanto
descansava, pensava numa vida diferente daquela. Afinal, sua vida a de seus
irmãos, e a de seus pais, era muito pobre. Comida, apenas o jantar que se
resumia em funji com cabueinha.
Já
se fazia tarde, 18 horas em média, e a chuva não parava de cair. Por causa da
chuva muito forte Weza acende uma das lanternas da bacia. Com cuidado, ela se
cobre com um pano e fica encolhida na cubata.
Weza
acaba adormecendo e sonha com uma casa muito linda (dessas que tem pelas ruas
de Talatona). Na sala havia até um piano! Nossa! Weza sempre achou bonitas as
músicas do Coral quando o pai a deixava participar. Lá era muito bom! O
professor era voluntário e trabalhava sozinho, sem apoio de ninguém, só por
amor às crianças e à música. Infelizmente Weza acordou. Era apenas um sonho…
A
chuva ainda caía forte e Weza acaba por adormecer novamente. Dessa vez a menina
sonha com uma mesa muito farta. Tinha de tudo: bolo rei, bacalhau com natas,
muitas gasosas, arroz branco e arroz colorido, galinha rija… grelhados de todos
os tipos… Hummmmm… Bom, bom, bom!
Mas
era apenas o cansaço que Weza sentia e que fazia com que ela adormecesse tantas
vezes… Além do frio, Weza agora sentia muita dor de cabeça… Talvez com febre
começa a ver umas luzes muito bonitas numa enorme árvore natalina.
(Weza) Uau! Quantas luzes bonitas! E que casa
fixe é essa? Onde estou? Ali é a avó?
A
avó de Weza que tinha morrido de paludismo há um ano, grita seu nome com muita
alegria.
(Avó) _Weza! Ê ê Weza meu Deus! Quantas
saudades!
As duas se abraçam e conversam.
(Weza) _Avó para onde você foi?
(Avó) _Vim morar nas estrelas minha neta.
(Weza) _É por isso que vejo tantas luzes
bonitas?
(Avó) _Sim minha neta amada. E o que você faz
na rua até tão tarde e com essa chuva?
(Weza) _ O pai mandou vender lanternas…
NARRADOR: Weza conta tudo o que aconteceu nesse
tempo longe de sua avó:
(Weza) _Avó… Depois que você veio morar aqui,
nas estrelas, passamos tantas dificuldades. Saímos de sua casa na Província
para morar aqui em Luanda, o pai nunca conseguiu emprego… nem a mamá.
A
Avó chora de tristeza e diz para sua neta:
(Avó) _Calma Weza, tudo vai acabar bem. Eu vou
ajudar você.
Weza
acorda. Está com muito frio e sente muita dor de cabeça. A lanterna já não
funciona e a chuva continua. Tenta levantar-se, mas não consegue.
De
repente um carro para e de lá uma mulher desce com um guarda-chuvas. Ela é
parecida com sua avó e Weza diz com alegria, mas sem força:
(Weza) _AVÓ. AVÓ.
A
mulher chama o marido para ajudá-la a carregar a menina para o carro, pois Weza
acaba por desmaiar.
(Paka) _ O que houve? Minha querida você vai
levar a menina sem saber quem são os pais?
(Mulher) _ Primeiro a gente socorre meu marido.
Depois pesquisamos com ela onde mora e sobre sua família.
Paka,
um homem de bem e bom, sobrevivente da guerra, leva Weza para o carro. Muxima,
sua mulher, forra um pano em Weza e a deita em seu colo.
Paka
coloca a bacia de produtos de Weza no carro e partem para uma Clínica.
Não
houve problema para atenderem Weza, Muxima conhecia o médico plantonista,
afinal, foi enfermeira durante muitos anos.
O
médico pede apenas que aguardem o socorro e depois chamaria os dois.
(Muxima) _ Será o que houve com ela Paka?
(Paka) _ Você viu que ela é uma pequena
vendedora de rua querida. Pode ser fome, paludismo, pode ser tanta coisa. Mas
vamos ser otimistas ya?
O
médico retorna depois de uns 20 minutos e acalma aqueles dois corações
bondosos.
(Médico) _ Fiquem tranquilos. A menina foi
medicada. Ela está muito fraca, mal alimentada e com febre. Está acordada,
podem ir falar com ela.
No
quarto, o casal se aproxima de Weza com muito carinho e cuidado. Apresentam-se
e contam como a encontraram.
Weza diz:
_Você parece muito com minha avó. Ela hoje mora
nas estrelas. Obrigada por me trazerem para esse Hospital. Preciso avisar a meu
pai.
(Muxima) _Vocês tem telefone?
(Weza) _ Sim. Meu pai tem das duas operadoras.
Você quer o número da qual?
Muxima sorri e diz que pode ser qualquer número.
Weza diz o número e a mulher telefona ao pai.
Conta toda a história e pede que fique calmo, pois levarão Weza para casa em
segurança.
(Muxima) _Pois… então falamos em breve Sr.
Bocoio. Desejo de melhoras para Dona Deolinda...
Sra.
Muxima conversou bastante com o pai de Weza. Falou inclusive sobre a vontade de
adotar a menina. Agora que estava com as filhas adultas e formadas, morando
fora de Luanda, sentia vontade de ter novamente filho ou filha. O marido sempre
estava presente, trabalhando juntos em prol dos pequeninos no Lar dos Utombiwi.
Tinha 56 anos de idade e havia adotado duas das três filhas do casal. Naquela
noite, Weza havia reacendido em seu coração, com mais força, a vontade de ser
mãe novamente.
Paka já havia aceitado a idéia, enquanto
conversavam na sala de espera da Clínica.
(Paka) _ Falou com os pais dela?
(Muxima) _ Sim. Eles nos esperarm.
(Os
três saem da Clínica. Weza está bem e com roupas novas que D. Muxima
providenciou. Os três vão para a casa de Weza, no Capolo).
Chegam
à casa de Weza, depois de entrar por muitos becos e enfrentar muita lama.
A
conversa com o pai de Weza e sua mamã Dona Deolinda é muito boa. Afinal, Dona
Muxima não diz que vai tomar Weza para si, ela explica que quer ajudar a criar
Weza. Tudo conforme a Lei.
(Paka) _ Sou advogado Sr. e Sra Bocoio. Faremos
tudo conforme a Lei.
Os
pais de Weza estavam alegres. O coração aflito da mãe de Weza estava tranquilo
agora. Depois do sumiço da menina, depois de tanta doença, de tanto sofrimento,
sabia que aquela ajuda era ajuda Divina. Na noite de Natal não poderia receber
presente mais caro, saber que sua filha teria apoio para não morrer de fome ou
doença como morreram quatro dos seus filhos. Weza era a mais nova.
(Pai) _ A gente queria dar certo Sr. Paka. Mas
a vida faz surpresa. Às vezes surpresa ruim. O Sr. me entende?
(Paka) _ Claro que entendo Sr. Paka. Sou filho
de Angola. Claro que entendo…O Sr. Vai trabalhar comigo. Trabalho e salário
digno o Sr. Vai ter.
Os
dois homens se abraçam e as duas mães dão as mãos.
Weza
abraça as duas e sorri. Depois olha para o céu daquela rua no Capolo e grita:
_
O NATAL EXISTE.
(Nesse momento, muitas crianças aparecem de
toda a parte, cantando uma linda canção que fala sobre um futuro melhor,
educação e amor).
Solineide Maria de Oliveira do Patrocínio Rodrigues - Autora.
Escrito em Luanda na data de 25/10/2017.
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