REITOR ELETRÔNICO

Ilustríssimo Reitor

Venho através desta, proferir algumas palavras. Mesmo desconfiando de que não conseguirei alcançar o Senhor... Pois que, ao que parece, Vossa Excelência está muito “automatizada”. E eu, Ilustríssimo, com todo respeito, não possuo essa disposição: ser eletrônica, ser um Ser autômato.

A Educação passou por períodos de grandes transformações. Isso, óbvio, a partir de muita luta de seres “pensantes” e autônomos. Essas transformações necessitaram de coisas contrárias ao que trava o pensamento. 
Tais alterações precisaram Senhor Reitor, da liberdade e da autonomia daquelas pessoas que, por serem fomentadoras do pensar, construtoras de teorias em favor da Educação, alicerces de modificações do “ato do pensar”, necessitaram.
O que nos difere, a nós humanos, dos seres todos do Planeta Terra, diz-se, é o pensamento. E atrelado a este, o livre arbítrio: podemos escolher. O Senhor sabia disso não Senhor Reitor?
Temos, nós os humanos, o importante dom de pensar; e de pensar sobre o pensar! Então o Senhor imagine, o quanto isso é majorado com relação àquele que lida com a Educação, de modo mais íntimo: o professor.
O Brasil já teve alguns grandes ditadores. Mas isso faz algum tempo, foi na época da Ditadura. Hoje, depois de algumas décadas de Democracia, não deveríamos excitar a construção de novos ditadores. Até por que, estamos numa DEMOCRACIA.

Não quero falar sobre o tema Democracia (embora isso tudo a fira duramente). Não. Porque esta, já está constituída.
Pode ser que estejamos sob o jugo de um simulacro de uma Democracia fragilizada, mas tal tópico é penoso demais para ser debatido junto a esse outro tão deprimente (opinião pessoal) do Ponto Eletrônico para professores de um órgão federal... Ou de qualquer outro órgão onde se fomente o pensar.
O Senhor é professor?
O Senhor já ministrou aulas?
O Senhor sabe que a construção de pensamento não bate cartão?
O Senhor sabia que a Escola nasceu LIVRE, debaixo de árvores, com os filósofos? E que os filósofos não batiam cartão?
Pois já imaginou? Se o tivessem feito, a Nova Escola não teria seu advento.

O Senhor já se imaginou tendo que correr contra o tempo de 50 minutos de uma aula (tempo acuradíssimo) e em seguida correr para outra sala e em tempo igual ministrar outra aula e apressadamente bater o cartão para só depois parar para pensar nos Planos e Planejamentos e posteriormente corrigir provas organizar novos textos novas produções aulas de campo com o CAPATAZ Ponto Eletrônico a perseguir o relógio do professor? (As vírgulas não foram usadas propositadamente).

Nunca imaginei que isso ocorreria: Ponto Eletrônico para professor. Jamais...
Talvez a liberdade do pensamento seja mesmo muito frágil, a ponto de ter que se submeter a bater cartão.
Talvez, Senhor Reitor, deveríamos todos desistir de vez de pensar, porque o tempo corre apressado demais e não poderia nos esperar...

Estamos muito atrasados em questões que já deveriam estar encerradas, tal como esta: o desrespeito à construção do pensamento de cidadãos pensantes, autônomos, livres para se conceberem ainda mais livres e maiores do que seus mestres. 
Para, a partir daí, conseguirem construir uma SOCIEDADE onde o retrocesso não a visite mais, emperrando em pontos e cartões um futuro melhor. Ou menos abjeta que este presente travado...

Lembra-se do filme “Tempos Modernos”? O filme narra a história de um trabalhador de linha de produção de uma fábrica que simplesmente enlouquece porque é obrigado a viver uma realidade completamente automatizada. Assista Senhor Reitor. É um belo clássico de Charles Chaplin: o Senhor já deve ter ouvido falar (o inventor do Cinema mudo).
Note Senhor Reitor, o filme expõe a história de um “trabalhador da linha de produção de uma fábrica”. Ele, supostamente, deveria estar “acostumado” à automatização de sua função, mas ainda assim, enlouquece.
O Senhor então imagine o que aconteceria com o professor... Que lida com gente... Seres humanos... O professor, este que seria um dos principais elementos para a construção de cidadãos pensantes, autônomos e livres, Senhor Reitor...

Afligiu-me imenso, saber que tal Instituição tem um Reitor Eletrônico e que este, está disposto a “eletronizar” os professores...
O que será dos nossos filhos? Cidadãos eletrônicos? Resultado de uma Educação Eletrônica?
O Senhor sabia que a EaD está revendo o que pode ser feito para “humanizar” o seu modo de lidar com o aluno que se insere no Mundo Virtual, através dos milhões de Cursos que já são disponibilizados em todo o Mundo?
Como encerro meu texto Senhor Reitor?:
Bato cartão? Ou continência?

Solineide Maria de Oliveira do Patrocínio Rodrigues

(Mãe de aluna de uma Instituição de Ensino que almeja adotar o Ponto Eletrônico).

Comentários

  1. Excelente texto. Sábias palavras, Solineide! Isso me soa como uma confissão capaz de expressar o sentimento de todas as pessoas envolvidas nessa relação ensino-aprendizagem. Infelizmente, nosso querido reitor se recusa a entender que Educação não se faz desse modo. Transmitir conhecimento vai além de dar aulas com tempo marcado pra acabar. Precisamos de aula, mas não a queremos dessa forma "mecanizada" que estão tentando nos impor. Ensino forçado não nos edifica, pelo contrário, nos transforma em verdadeiras "máquinas de informação"; mas acontece que somos humanos.

    É então que me pergunto... a que "ponto" chegamos?

    (Desabafo de uma aluna que não suporta mais greve)

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  2. Excelentes palavras.
    A que ponto (eletrônico) chegamos.

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  3. Solineide, suas palavras retratam a angústia que nos aflige no IFBA. A última mesa de negociação fez-nos perceber que todos os argumentos do Reitor e os seus são engodos. O objetivo dessa empreitada nada mais é do que o doutrinamento dos trabalhadores. Acho que a vaidade desse povo está tomando proporções gigantescas (ou megalomaníacas).

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  4. Será que, de fato, foi escrito por mãe de aluno ou é mais uma manobra dos que são contra o ponto eletrônico? Não precisaria de ponto eletrônico se não vivêssemos numa sociedade em que, alguns servidores públicos (no caso do IFBA) fossem corruptos ao ponto de ter em sua carga horária, no caso dos docentes, de DE (Dedicação Exclusiva), ministrassem apenas dois dias de aula e depois viajasse para as suas residências, que muitas vezes, fica fora de onde trabalham. Que paradoxo, os mesmos professores que defendem ao não ponto eletrônico, dizendo que o ponto eletrônico é herança do capitalismo, etc... Os mesmos correm atrás de complementação de graduação não para apenas auto conhecimento, mas para progressão salarial... danadinhos! Enfim... Se estamos numa sociedade democrática, onde cobramos dos nossos governantes trabalho sério, cobramos também dos servidores públicos o cumprimento de sua jornada de trabalho a que se submeteram em concurso público... ou então, sejam éticos e se são contra, peçam para sair e sejam trabalhadores autônomos.

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  5. Amigos!

    Não curta apenas, se entenderem a verdade, compartilhe!
    Esconder a verdade é desertificar o futuro de muitos brasileiros.
    Os que me conhecem sabem que fui aluno da Escola Técnica Federal da Bahia e por esta razão, tive a oportunidade de estudar numa escola Pública, Gratuita e de Qualidade.
    Por saber a importância da Educação na formação do Cidadão e por tudo que este Instituto representou e representa na vida minha e de meus familiares, assim como de todos Amigos e Conhecidos, defendo a Verdade dos Fatos.
    Sou o quê sou e quem sou por ter tido oportunidade de estudar!
    Esse é meu compromisso com a Vida.
    Reconhecimento e Gratidão é a tradução dos meus sentimentos e ações.

    Sociedade, veja o que o SINASEFE quer no Processo:

    0012780-73.2015.4.01.3300 na JFBA:
    Réu Instituto Federal De Educação Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA
    Autor Sindicato Nacional Dos Servidores Federais da Educação Básica E Profissional - seção sindical do IFBA-SINASEFE-IFBA Andre Luiz Queiroz Sturaro

    O PEDIDO INDECENTE E IMORAL PARA QUEM PAGA CARO A REMUNERAÇÃO DESTES SERVIDORES:

    "abstenha de impor aos substituídos o registro diário de frequência qualquer que seja a sua forma"

    Decisão de Antecipação de Tutela, vejam a decisão do juiz indeferindo :

    " Insta pontuar que o Sindicato demandante não logrou sequer argumentar
    eventual incompatibilidade entre as atribuições dos substituídos e o controle de
    pontualidade e de assiduidade pela via eletrônica."
    "Do exposto, notando ausente os requisitos legais, INDEFIRO , por ora, o
    pedido de antecipação da tutela."

    IFBA: Fazer greve por não querer Ponto eletrônico para controle de frequência, de assiduidade e de pontualidade é ser CORRUPTO.

    Ressalta-se que o ponto eletrônico para os Professores visa registrar o horário das aulas, dos atendimentos ao aluno e também das reuniões de coordenação, departamentos, colegiados e conselhos.

    As demais atividades inerentes ao fazer docente não serão objetos de controle eletrônico de frequência, ao passo que os técnicos administrativos farão apenas o registro diário da jornada de trabalho a qual estão submetidos.

    Ficam duas perguntas para reflexão:

    Se eu sou assíduo, pontual e tenho frequência regular, ou seja, se estou presente no meu local de trabalho nos dias e horários para os quais sou remunerado, por quê não quero ponto Eletrônico nesses dias?

    Se existe legislação que exige o Ponto Eletrônico para os servidores públicos Federais, se o Ministério Público Federal e a Controladoria-Geral da União, órgãos de Controle da Administração Pública Federal, impõem o cumprimento da Lei para bem do Interesse Público e benefício da Sociedade Brasileira. Quem não quer o Ponto Eletrônico, salvo melhor entendimento, deseja permanecer na ilegalidade, não atendendo o Interesse Público e continuar produzindo malefícios à Nação Brasileira.

    DECRETO Nº 1.590, DE 10 DE AGOSTO DE 1995.
    Dispõe sobre a jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais, e dá outras providências.

    DECRETO Nº 1.867, DE 17 DE ABRIL DE 1996.
    Dispõe sobre instrumento de registro de assiduidade e pontualidade dos servidores públicos federais da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, e dá outras providências.

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