A DOR NÃO TEM FRONTEIRA E NEM COR... PODE SER AFRICANA OU BRAISLEIRA

Nunca soube que amava tanto o Brasil. Tendo nascido e vivido lá mais de 30 anos, não percebia que o meu país estava entranhado em mim. 
As muitas injustiças, em todos os âmbitos que existem: 
educação, saúde e segurança, sobretudo, revelam em nós, brasileiros, uma espécie de sanha pelo país que nos deu berço...
Mas amamos nosso país! É nossa terra, é nosso lar, nossa identidade primeira. 
Hoje, ao acordar e fazer desjejum, antes de começar meu trabalho, para matar a saudade do Brasil, liguei a TV no canal que passa os programas brasileiros. Ana Maria Braga estava recebendo duas mães que perderam suas filhas pequenas, por bala perdida... 
As duas mães choraram muito ao tentar narrar o que aconteceu no dia em que perderam suas filhas... As duas mães solicitaram por Justiça... Ou justiça... Qualquer tipo de acontecimento que diminua a impunidade no país... 
Eram duas mães: uma branca de olhos verdes e a outra negra de olhos pretos. 
Duas pessoas. 
Duas mulheres. 
Duas brasileiras. 
Fiquei pensando na asneira de, ainda hoje, se pensar que cor de pele diz alguma coisa sobre o ser humano... Afinal somos todos da RAÇA HUMANA. Como somos pequenos ainda... 
Sentimento não tem cor... A dor não tem cor. O amor não tem cor, a perda não tem cor. E a saudade dói em qualquer parte do Planeta... Atrás de qualquer Oceano...
Ser mãe de filho morto dói imensamente... Ser mãe de filho envolvido em droga é doloroso... Ser mãe de quem se perdeu pelas vielas da vida é doloroso! 
Aquelas duas mulheres chorando, ao narrar suas histórias, tocaram tão fundo em minha alma, que comecei a chorar e, ao mesmo tempo, agradecer, num feio egoísmo... Explico:
chorei pela dor delas e porque em mim também, suas dores doeram. Mas agradeci por ter filha e esta passar bem, com 17 anos, cercada de amor e apoio enquanto não estou perto de si (perto fisicamente). Aquelas duas mulheres, com vidas distintas, cidadãs e brasileiras me lembraram de que o Brasil necessita de “Homens de Bem” no Poder. 
O Brasil necessita de quem consiga, em tempo, tomar rumo da situação que sugere ter descambado para o caos absoluto nas matérias principais: educação, saúde, segurança. 
Uma das meninas estava dentro de casa, brincando com o pai. A outra estava indo para casa, no colo da mãe que estava ao lado do marido, pai da garotinha. 
Nesse momento a sanha pelo Brasil se apresentou e maldisse minha terra. Mas não é a terra em que nascemos que tem culpa, jamais! São esses aí nos quais votamos e depositamos esperanças tão vivas, quanto leais. 
Esses aí que vão para TV com essas caras cínicas, a usar nossa sala como se fosse banheiro público! A culpa é desses aí que estão no Poder para favorecer a todos e favorecem um punhado de outras criaturas bolorentas de tão apodrecidas pela sede e fome de dinheiro! 
Esses aí são as balas perdidas que levamos na cara todos os dias! 
Esses aí nos quais votamos! 
E essas balas perdidas existem em todos os países os quais a injustiça sobrevive à fome de escolas dignas, de saúde digna, de segurança mínima. 
Essas balas perdidas também existem em países onde há mais gente doente do que hospital... Onde há mais crianças na rua do que Creche em tempo integral... 
Essas balas perdidas existem em todos os países que não conseguiram alforria dos titulares do Poder... 
Em verdade, essas balas perdidas existirão enquanto o Primeiro Mandamento de outra esfera não for cumprido... 
Minhas irmãs brasileiras estiveram a chorar, mas protestaram, ao mesmo tempo por Justiça (ou justiça) para todos! Para todos os que, como as duas, perderam filhos em situações que inspiram segurança... Uma estava em casa e a outra no colo de sua mãe, num bairro “seguro”... 
Peço desculpas para minhas “irmães” brasileiras e para todas as outras pessoas que perderam seus filhos e filhas em situações tão dolorosas... 
Senti-me culpada por não poder fazer nada... E, por talvez, ter deixado a situação ir tão longe, através de preferências a criaturas que mereceriam receber na cara, com a força de uma bala, a minha completa indiferença ao longo de tantos anos, décadas, séculos... 
Eu também fui atingida mais uma vez, igual a essas mães... No entanto, meu país não tem culpa. Quem tem culpa são esses aí que, todos os dias, deflagram uma bala na alma já tão inflamada do Brasil e dos seus filhos, os cidadãos brasileiros. 
Como terminar um texto em fúria?...
Recorramos à nossa Padroeira, que também é mãe, que perdeu seu Filho para uma causa maior, a de nos fazer entender a mensagem do AMOR. 
Parece que ainda não entendemos Nossa Senhora... Já que, também eu, conhecendo a Lição, ainda assim, fui acometida pelo furor. 

SOLINEIDE MARIA DE OLIVEIRA 
Luanda - 06-02-2015 (08:35 da manhã)

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