Carta para Jorge em vésperas de Eleição

Meu amor,

olha amor... Eleição? Não sei se o vocábulo está alcançando o que acontece nesse momento no país.
Eleição é alguma coisa entre alegre e animadora. O que se estabeleceu, no entanto, foi um capítulo entre triste e desalentador...
Vemos que ser Político com a honradez que o termo solicita, não foi assimilado pelos "homens" que se arvoram em tal caminhada.
E no povo brasileiro há uma espécie de medo de votar entende? Medo de escolher... Medo.
Há em mim, uma espécie de vontade de esquecimento...
Em mim, há uma corajosa vontade de ir até o final do capítulo, pois que sou leitora que não desiste de uma história, ainda que o enredo não seja machadiano.
Não sei lhe explicar meu amor, o que acontece...Você me perguntou sobre o tema e, sinceramente, não sei lhe dizer com noção superior. É como um texto mal elaborado...
Um texto onde chegam pedaços fragmentados de todos os lados. Não tem coesão, falta coerência... Há desrespeito às margens (direita e e esquerda)...
Sonho com o dia em que iremos contentes para as urnas!
Lembro-me de quando meu pai separava a melhor calça e a mais bonita camisa. Minha mãe usava batom (que me recorde ela usou apenas no casamento das filhas).
Não sei explicar... Mas havia neles uma espécie de satisfação por estar a ir votar naquele que a consciência ou simpatia, elegia, antes de ser eleito pelas urnas. E se não fosse eleito, havia sido eleito pessoalmente, então não havia motivo de contendas ou "feisses" dialogadas, como está ocorrendo atualmente pelas Redes...
Para aquela satisfação é que meu pai e minha mãe acordavam à caminho das urnas. Meu pai hoje tem mais de 80 e há algumas Eleições já decidiu não eleger mais a ninguém. Minha mãe, da mesma forma. Eles dizem que é perda de tempo...
Carlos Drummond sempre me salva, quando não tenho palavras plausíveis:
“Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.”

Desculpe meu amor, se não encerro de modo plausível minha carta (?), mas recorro à poesia que sempre me abriga e acolhe. Um beijo.

Sua para sempre.
Solineide Maria 

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