COMO SE FOSSE UMA LEMBRANÇA

“Nunca se sentira tão infeliz. Jamais pensara que um dia seria capaz de se ver assim, sentado numa calçada, sozinho, chorando”. Nem mesmo o abraço de um amigo de infância fizera com que se sentisse melhor... 
Havia se arrumado para ela: a melhor roupa, o melhor tênis, o melhor perfume. Quando era criança, pensava que amor fosse uma brincadeira. Alguma coisa boa que deixasse a pessoa feliz. Lembrava-se de sua mãe aconselhando-o sempre para que não se apaixonasse por completo... Agora ele entendia. Sabia que sua mãe assegurava sobre as armadilhas do amor... “Mas aquilo era amor”? Pensava, sem ter noção de que essa pergunta já havia sido feita por milhares de seres adolescentes. 
Quando seus pais se separaram, pensou que o mundo acabaria... Nada disso... Foi maravilhoso, pois conseguia ver seu pai duas vezes por semana e sua mãe começou a arrumar-se como nunca fizera antes. Ele começou a ser feliz assim... E a dor inicial (por causa do divórcio dos pais) passou a não existir mais. Talvez isso acontecesse agora... 
Talvez sua dor passasse logo, mas a impressão que tinha era que seu peito ia rasgar como se tivesse contraído alguma doença rara... “Isso é amor”? Pensava ensimesmado. Algum tempo atrás, pouco tempo, dispensou uma menina que se declarou apaixonada. Coitadinha... A mesma sensação teria experimentado a pobre criatura. Se pudesse voltar no tempo e responder sim àquela menininha baixinha e quase sem atrativos físicos...  
Raquel se sentava sempre na última cadeira da primeira fileira (do lado esquerdo de quem entrava na sala). O rapaz passou alguns minutos lembrando-se de como era bom conversar com ela, como era revigorante trocar ideias e discorrer sobre suas aventuras com o novo videogame que havia ganhado do tio, que adotara os Estados Unidos para morar fazia mais de quinze anos. Como queria, naquele momento, receber um abraço daquela pessoa incrível... Mas era tarde demais. O que tinha para hoje, era aquele momento detestável: cheio de dor e de tristeza onde, imóvel, permanecia sentado na calçada, sem ânimo nem para seguir, nem para voltar. Em verdade, queria mesmo era desaparecer como se fosse uma lembrança... 


Solineide Maria de Oliveira.
Poetisa
Escritora
Professora de Produção Textual

Crônica escrita para os alunos do Nono Ano no Segundo Bimestre na Disciplina Produção Textual onde estou professora.

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