Envelheci em tuas mãos

Envelheci em tuas mãos. 
Presenciei teus silêncios... Todos recheados de um vazio causticante. 
Envelheci na frente da tua TV, em tuas mãos, em teus braços... Presenciando os detalhes de tuas horas de enfermidade, das falas apaixonadas que não existiam... 
Vi alguns barcos indo embora, e tu no quarto, dormindo após o sexo...
Nunca, nem de longe, tu me acenaste dizendo: 
"Fique, fique! Não saia nunca mais daqui". 
Toda impressão de querer ficar que tateava, morria no início. E nenhuma impressão de querer ficar se torna verdade... Dessa maneira, envelheci em tuas mãos... 
Bebi do teu vinho - aquele mesmo que ofertava a todas as mulheres do teu passado, mas vinhos não saciam a falta de projetos de vida... 
O medo de não funcionar, fazia de ti um homem em busca de prazer... Para amenizar a dor. E sempre existia uma dor (ao menos quando estavas comigo)...
Aos poucos eu adoecia. Envelhecendo, assistindo tua dor, velando teu sono (pós-sexo). Aquela de sempre: a que encontrava solidão ansiando companhia (no mínimo)...
Nenhuma companhia chegou a ser companheira. Tu nunca entendeste.... Quis tanto ficar... TANTO.
"Nenhuma impressão de amor torna-se verdade" a protagonista do filme disse ao rapaz... Eu falei para ti:
"Viu que bonito?" Tu não estavas. Tu estavas dormindo... Pena... O filme foi lindo, este e todos os que não chegavas a assistir até o final. Tu dormias... Eu velava teu sono...
Ou a gente ama ou acompanha, sempre te dizia isso, mas tu não ouvias... "Como me livrar dela?" (acho que pensavas em silêncio).
Ainda uma vez mais repeti aquela frase, mas tu te mantinhas onde nunca pude alcançar. "Tu me amas?" Perguntavas para mim. Cansei de responder positivamente, mas tu nunca me respondeste nada, nem que sim, nem que não, apenas sorria e dormia (pós-sexo).
O que houve de pior, que guardo na memória e sinto na pele, foi não ter encontrado novamente aquela ansiedade de ficar bom, você já estava bom, saudável... Daí, não precisavas mais de mim...
Aquela ansiedade por saúde era apaixonante... Por causa dela (também) resolvi ficar contigo e te amar. Sempre fui A COMPANHEIRA, a parceira, a pastora amorosa, mas não notaste...

Solineide Maria - Agosto de 2013

Essa é uma obra de ficção...

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