Página de diário

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Quando me canso costumo visitar Clarice...
Ela me convida alegremente para sentar e, prontamente, serve um café fresco. Fico durante horas, sentada na varanda de sua casa. Sozinha.
Ela sabe que vou até lá para ficar sozinha. Ela sabe que preciso do seu silêncio exato e de ouvir suas passadas mudas pela sala...
Hoje estarei lá. Preciso ir ver Clarice e saborear do sigilo de suas palavras. Preciso me abraçar e pedir ao vento de sua varanda que me acompanhe pela semana que se apresenta.
Talvez, por ser Domingo, justamente agora (final de tarde) sinta esse gosto de nada... Talvez, por isso haja esse aroma de vida que se esconde... Talvez, por isso, essa luz se esconda em penumbra de fim de tarde assim, tão tragicamente...
Preciso de Clarice. Preciso muito de Clarice.
Ela sempre me entende e responde tudo o que não pergunto. Ela se adianta às perguntas, sabe exatamente o que penso e o que sinto...
Uma vez lhe perguntei se havia se inspirado em mim para construir Macabéa. Ela sorriu por minutos... Depois expôs: “presunçosa você, não”?!
Ela me aquece. Talvez esteja cansada de tudo. Sabe a sensação de que para você é mais difícil?... Então... Ela me acompanhou durante o dia inteirinho...
Ela sabe lidar com as dificuldades (a Clarice). Por isso também vou ter com ela. Tudo melhora depois que converso com as paredes de sua casa, com as cortinas de sua sala, com a luz daquela varanda.
Clarice me descansa. Mas ela sabe que não sou uma “vampira”; não sou desses seres lamentosos que sugam nossa energia. Ela sabe. Ela me conhece...
É que “de uns tempos pra cá” as coisas andam meio esquivas... Parecem temer minhas mãos (mas são tão pequenas, as coitadinhas...). Não sei... Parece que elas querem brincar de me ver assim, cansada... Fatigada só de pensar no exercício de pensar...
Clarice dilata minhas ideias, anima meus neurônios, ajeita meu íntimo.
Vou visitá-la. Clarice me hasteia das adversidades.

SOLINEIDE MARIA DE OLIVEIRA - 09/06/2013.

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