Dançando com Parsifal


Ele chegou com um cachecol marrom e uma camisa branca (linda!) de mangas compridas. Disse com ar debochado: “Não xona tá?” Depois gargalhou. 
Ele estava bem. Abracei-o fortemente e expus que agradecia por ter vindo. Ele disse que precisava parar de ser “frágil”. 
Disse que precisava desatar esse nós que teimo em preservar. Entendi... 
Leu o restinho do texto que escrevo e sugeriu mudanças (muitas). Aconselhou que eu parasse de me arvorar no mundo acadêmico e gritou: “você é poetisa porrra!” E me cingiu pela cintura dançando “Sou Parsifal”. 
Dançamos e dançamos e repetimos a canção. Ele sorrindo e me fazendo rodopiar grandemente. Gargalhávamos feito criança!! Caí e ele riu muito. 
Levantou-me devagar pedindo desculpas, eu lhe abracei. Ele disse que eu estava carente. Sorri. “Sempre carente hein menina?...” 
Respondi que estava alegre com sua presença. Ele disse que acreditava. 
Sentamos para descansar ao som de “1º de julho”. Ele me explicou como escreveu a letra dessa canção e desabafou que ainda sentia muito por ter perdido a coragem, mas confessou que não aguentava mais. 
Disse-lhe que sabia que estava prestes a desistir, que suas canções anteriores já me sinalizavam. Ele sorriu e falou: 
 “Você é sabidinha né?...” Repliquei que era ouvinte do Legião e leitora do poeta Renato Russo. Ele me abraçou e observou, olhando o céu, que era tarde... 
Pedi para ficar mais um pouco, ele exigiu um licor (lembrando que afinal de contas era São João). 
Fiquei medrosa, perguntei se iriam gostar. Ele respondeu que lá (no além-mundo onde estava) ainda era uma escola e que se responsabilizaria... 
Não achei interessante e disse que não poderia lhe fazer esse “favor”. Ele me beijou na testa e sorrindo analisou: “Você gosta mesmo de mim não é?” Respondi que era óbvio que sim. 
Dançamos ao som de “Leila” e ele, durante a dança, pediu para me concentrar lá pelas duas da manhã, que iria mandar uns recados. Sorri perguntando se não poderia ser mais cedo. Ele disse que mais cedo só se fosse meia noite. Comecei a chorar. Ele parou, perguntou o que era, disse-lhe, sem jeito, que estava tudo tão sem graça. “Está tudo tão difícil Renato”... E
Ele confessou que iria piorar, mas que fôssemos fortes. Disse que os jovens têm que ter força e me abraçou. "Eles precisam ser amados!"... 

Despertei contemplativa. Quando estava nas minhas páginas intermináveis hoje pela manhã, lá pelas seis e meia (06h30min), alguém ouvia ao longe (nessa vizinhança de gosto musical espantoso) a música “Sou Parsifal”. 
Parei tudo e fui para a janela da cozinha escutar aquele momento... 

Solineide Maria Russo (era como assinava meu nome na adolescência) rs

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