Apagando vestígios em pleno mar alto

Teu navio não quis dar lugar ao meu barco. Pequeno demais, talvez, não chamou atenção em quase nada. 
Espaço havia, mas não quisestes gastar guinchos e cordas. 
A quilha enorme do teu navio a dizer em brancas ondas que me afastasse, mas meu barco escasso e triste já não ouvia mais nada. 
Meu barco não ouvia mais nem vento ao sul, nem vento ao norte. 
Meu barco sentiu medo diante de uma embarcação menor que ele... Sucumbiu e teve calafrios de naufragar diante da imensidão do desamor. 
Agora não respondes mais a nenhuma sinalização. 
Nem bússolas, nem números te alcançam. 
Mas preciso ter de volta, a salvo, o conto de minha autoria. 
Não é sobre os marouços gigantescos, nem sobre a fria brisa das manhãs e das tardes... e das noites. 
É sobre alguma coisa que não lembro. 
Sei que diante de toda ingratidão que arremessas em direção ao meu barco miúdo e melancólico, já deveria ter traçado em meu mapa, outra direção. Mas preciso apagar todos os vestígios de mim, das águas que me levaram até tua amplidão. 
Tua amplidão, que é destino de outra embarcação.


Solineide Maria
Poema que consta no livro de poemas e crônicas poéticas da autora: 
Ali longe no marEditora: Scortecci. Ano: 2010.

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