"Regi faz falta né Glória?"

Minha mãe foi para a roça.
A vizinha lamenta com a outra:
"Regi faz falta né Glória?".
Eu ouço, daqui da cozinha...
Minha mãe faz falta mesmo.
Lamento não ter o poder de transmitir
o amor que sinto.
Lamento não conseguir dizer 
todos os dias:
obrigada por tudo.
Lamento ter de admitir
que não a amo com gestos,
tanto quanto mereces.
Mas sim, a amo muito.
Todos os dias quando chego e a vejo
atribulada nas coisas da cozinha...
Todas as vezes que recebo o comprimido
contra a sinusite e a tendinite...
Todas as vezes que dispara em minha cara:
"você se queixa demais!"
É coisa de poeta minha mãe...
As queixas e o jeito distante.
A alegria sem jeito e a presença ausente...
O aceite rápido por qualquer prato do dia...
A indecisão em ir ou ficar...
A vontade maior de ir
em vez de ficar...
Perdoe-me por ser esta que sou,
mas  concordo com a vizinha 
e com a casa:
"Regi faz falta..."

Dedico este poema aos meus irmãos de sangue.

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