Pedrinha de Gelo ( Uma cronicarta um tanto medrosa, para Flora Maria, minha filha de seis anos)



O que falar sobre o que pensava que pudesse acontecer? Não creio em amor carnal, nem sentimento de ferro que dure até ficar velho. E esse gelo caindo, trouxe-me uma dúvida: o que fazer para que, envelhecidos, não percamos a meninice de gostar de ver a chuva caindo em pedrinha de gelo?
E sobre esses sonhos, Flora Maria? Caindo de mim e dizendo: Sua boba, bobinha...
Foram cinco minutos eternos de pedrinhas de gelo, caindo do céu. Caíram também, um monte de lembranças. Ex-sonhos. Todos enfileirados, dizendo: Sua boba, bobinha...
Estive tão indefesa Flora Maria... Aqui da janela do RH da Lubrin...
E das poesias? O que fazer dessas poesias que ficam em mim, presas, incrustadas? Que desejam cair de mim nos papéis. Querendo tornarem-se letras, letrinhas, palavrinhas, sentimentos deitados nas folhas brancas, amarelas, marrons...
Tudo tão sem sucesso, tão sem força, tão sem convicção. Palavras para quê minha filha? Já se escreveu tanta coisa. Todas são melhores do que as que trago, você vai ler...
Sua mãezinha Flora Maria, é uma pessoa fraquinha, tem medo inclusive de pedrinha de gelo... 
Lembrei-me logo de você, pois é a quem amo e a pessoa que gostaria de ver se fosse este o último momento de minha vida. Deu muito medo de que sim...
O gelinho muito zangado caindo do céu... E eu sem nenhum cavalo alado que voasse até você...


Solineide Maria
São Paulo
Fevereiro de 2004

Hoje minha filha tem 14 anos de idade. Completará 15 anos no próximo dia 08/08/2012.
A chuva de pedrinha de gelo passou, mas meu coração é o mesmo... Flora Maria segue sendo mais minha mãe do que o contrário. No entanto, muitas vezes, sou sua mãe também.

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