Entre dois lugares

De onde vim, o céu é azul e voam pássaros. Onde estou, o céu é cinza e os pássaros são de aço.

Quando a tarde cai na terra onde nasci, o sol deita sereno e tranquilo. As pessoas voltam calmamente, do trabalho, para suas casas. Alguns, param para bebericar e comer acarajé. Outros vão para suas casas, abraçar a paz de um belo café preto, puro e bom.

Aqui, a tarde é medonha pelas ruas: os carros voam loucos, ultrapassam os sinais, as lotações abarrotadas, todos com apreensão de chegar em casa,  pois a noite é curta e logo a manhã chega, para tudo recomeçar atordoadamente. De forma que o descanso é cansado, morno, pouco...
O sustento de onde vim - dá para levar a vida simplesmente - numa espécie de resignação cristã: às vezes frustração, às vezes melancolia...
Aqui se ganha e se paga na mesma moeda. Às vezes há lazer e, muitas vezes, gratuito. No entanto, onde fica o caminho para a real satisfação? 


São Paulo
Solineide Maria
2003

Este texto remete a uma insatisfação  que me vigiava, quando morei alguns anos em São Paulo.
Percebo, hoje, que tal insatisfação independe do lugar onde se está... As coisas são dentro em nós. Quem escreveu isso primeiro?
Vejo que Itabuna se transformou na  mesma aturdida metrópole  brasileira...  Com suas ruas cheias de  condutores "tresloucados" e muitos meninos fisgados pelas garras das drogas. Infelizmente, o lazer gratuito não acontece aqui, com a mesma intensidade daquela "megalópole" de aço e cimento.
O cafezinho preto e bom, puro e simples, vigora. No entanto, comer acarajé sem medo de assalto ou de bala perdida, não é mais ato fácil.
Minha querida irmã Neide (que ainda mora em SP) sempre esteve certa: "Soli, você deve estar onde você está Soli. Todo lugar tem coisa boa e coisa ruim."
"E preciso saber viver..." Aconselhava-me.
Então busquemos essa sabedoria (eu, sobretudo).Essa sabedoria que Neide, minha irmamiga, já alcançou.

Fonte das imagens: Google.

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