E-mail para Bete

Nem te conto Bete...
Ontem, a realidade bateu em minha porta, rindo de minha cara.
E falou repetidamente: _ Eu te avisei...
Ria escandalosamente e repetia: _ Eu te avisei!
Falou que viu o moço numa praia, bebendo com alguns amigos... Declamando bobagens e ideologias sem cabimento.
Fiquei sem jeito sabe Bete. Sentei na cadeira e fitei aquela criatura naquela crise de risos. Não tinha como ponderar. Depois que ela percebeu minha quietude, pediu desculpa, mas insistiu em dizer que havia me alertado.
Ofereci-lhe uma água, um café, o resto da ceia de Natal. Ela aceitou. Almoçamos em silêncio entrecortado pelos pedidos de passa a salada, passa o peru, me dá a farofa.
_ Tem pimenta? Perguntou-me a dona da razão, respondi negativamente. Após o almoço, tomei o café de sempre. Ela não aceitou café, preferiu o resto de pavê. Elogiou a textura, o sabor...
Estava sem graça e perguntou o que iria fazer dali em diante? Disse-lhe que não havia nada a fazer a não ser seguir. Dessa vez sem entregar-me à luxúria, nem frivolidades outras.
A realidade ficou me olhando sem dizer palavra. Terminado o pavê, lavou os pratos sujos, arrumando-os no escorredor. Enxugou as mãos e disse que estava indo. Agradeceu por tudo e elogiou, mais uma vez, o pavê.
Um tanto vexada, pediu desculpa pela crise de risos. Disse-lhe que não havia problema, que ela tinha razão em rir em minha cara e de minha cara. Cair no mesmo erro duas vezes é mesmo coisa de otário. Otária, no caso. Ceder à mesma tentação de ser apenas carne malbaratada.
Ela me abraçou, desejou Feliz Ano Novo e saiu. 
Feliz Ano Novo. Desejei-lhe também.
Agora estou aqui Bete, escrevendo este e-mail sem viço...
Você vai viajar no Réveillon? Posso ir junto? Responda logo, por favor. Para dar tempo de comprar um biquíni novo e novas sandálias.
Um banho salgado é sempre bom...

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