BETE - PARTE NÃO SEI MAIS QUAL...

Sabe como é. As coisas esfriam. Tudo esfria...
Bete disfarçava, mas estava triste - namoro é isso mesmo Bete (dizia Lígia). Bete não ouvia mais nada. Estava sem nada pra falar, sem nada pra pensar, só pensava nele - na frieza dele.
O café estava bom, mas a alma estava fria, feito quando a gente não quer ver e nem ouvir. Contou sobre seu medo de dar as aulas que preparou, e Lígia, sorrindo lhe disse: "conta outra Bete". "Você está pronta até para lecionar na universidade". 
Bete sabia que não estava pronta. Sabia que nunca estaria pronta, mas na verdade, ensinar exige "incompletude". Paulo Freire disse que seremos sempre seres incompletos, ou teria sido Sartre. Nietzsche?! Ah! Sei lá...
O café acabou rápido demais e a fé de Bete estava morna, feito quando a gente esquece a água na bacia. Lígia sorriu de um menino gay que passou reclamando do namorado, e disse para Bete: "viu, não é só você Bete, que sente as coisas esfriarem". Bete não sorriu, ao contrário, chorou igual criança com medo da vida.
Um dia de cão a coitada da Bete teve, mas é a vida que bate feito no poema do Ferreira Gullar. Às vezes bate mais forte, como hoje, porque Bete não estava bem desde cedo, quando não foi atendida no médico. Depois, quando não soube o que dizer para a atendente do lugar onde se preenche a carteira de passes estudantis... Ai, ai de Bete...
O mundo está maluco demais para os sensíveis e Bete, coitada, ainda acredita no amor entre duas pessoas. Ela não entende que  o verdadeiro amor não esfria, nem muda. Ela não quer acreditar que o verdadeiro amor melhora e cresce. Mas Bete acredita que a vida pode ser mais, feito na música do Lulu... Bete é tão pueril... E tão romântica, igual aquela música do Caetano...

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