DESENCONTRO (OU O CANSAÇO DOS SENTIMENTOS)

Ele chega e senta e diz olá. Eu, pensando no primeiro encontro. Por que não conseguimos encontrar nosso parceiro de meses, como se fosse o primeiro encontro e experimentar o olhar e a ansiedade do beijo, a empolgação de querer ouvir e querer falar?
Por que, em algum momento, perdemos a paciência de deixar que o outro se fale, se exponha e seja dono de suas opiniões e se estabane todo querendo se dizer e se expressar?
Por que será que diante das primeiras falas, após algum tempo juntos, há uma certa morosidade no ouvir e no falar? Onde deixamos que o fio inicial se estique e esgarce? Onde?
Ele diz olá e avisa - sem emoção - que não pode demorar. Eu, então, penso em falar: por que me chamou? Por que me convidou? Não digo, não consigo dizer. Porque não conseguiria, depois, desdizer. Então respondo que tudo bem, pois que não saberia o que fazer se ele desaparecesse...
Daí eu conto que fiz umas coisas e outras, ele com o olhar atento não sei a onde. A onde é que a gente perde o olhar do do outro? Por que o olhar atento à nossa fala, lá do primeiro encontro, volita para outras mesas?
Digo, numa tentativa de que me olhe novamente, que talvez viaje para longe durante uns dias... Ele pergunta se pode pedir a conta. Percebo que não ouviu, percebo que não me viu. Percebo que não foi me encontrar, que foi comer, beber um chope, um guaraná, mas que faltou ir para me encontrar.


Comentários

  1. Olá pequena.Aprendi que quando analisamos demais cada detalhe minucioso da vida estamos perdendo o que há de mais precioso nela.Um grande abraço é muita paz e harmonia nesse seu coração incansável.
    Um abraço em Flora.

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  2. O coração tem que ser incansável.
    Outro abraço!
    Mas a poeta está bem, o texto é ficção. rsrs

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