Carta para Paulo Freire

Paulo Freire:

Você não me conhece.
Sou uma dessas pessoas comuns, que desfilam pelas ruas, muitas vezes, ensimesmadas, pensando suas impossibilidades.
Ainda não sei o suficiente para me dizer intelectual. Ainda não sei ler direito, não sei escrever direito... Embora esteja cursando uma licenciatura numa universidade pública.
Moro numa cidade do interior do sul da Bahia, no Brasil que você amou. Ainda não sei o que farei quando terminar o Curso. E na condição de estudante, devo permanecer. Mas acho isso bom, porque me desviará da possibilidade de virar uma dessas pessoas que retesam o “pouco” saber a que tiveram acesso.
As suas falas ficam me pedindo reflexão... E, por isso, talvez, não tenha parado. Por isso, talvez, com 36 anos, tenha superado algumas pessoas, alguns pesadelos e muitas barreiras gramaticais.
Por isso, por saber que sou um ser inconcluso, por saber que sou mesmo inacabado (fissurado até) graças a essa certeza, devo ter seguido.
Peço que nos ajude a termos essa consciência para sempre, a de que somos seres condicionados. Peço que guie nosso entendimento para tal verdade, e que nos ampare quando estivermos sucumbindo aos monstros da antipatia, do pedantismo, da ignorância que fazem com que alguns creiam que sabem mais do que o outro. Pois como você asseverou, estamos todos nos inserindo no mundo, a todo o momento.
Peço que nos ajude a chamar o outro para a consciência de tal inacabamento. E que este tenha vontade de buscar um acabamento possível até o próximo, e próximo e...
Porque nunca se está pronto e acabado.
Nada é imutável.
Amém

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