POEMA PARA SARAMAGO, PARA OS QUE SE LEVANTARAM, PARA OS QUE SE LEVANTAM E PARA OS QUE ESTÃO A LEVANTAR-SE.


Nesses tempos difíceis já vivemos.
Pais e mães e filhos e netos e cães.
Fomos mendigos da Terra e da terra vencedores.
Mataram-nos,
sobrevivemos.

Fomos carpindo a nós mesmos a terra e as coisas todas.
Sofremos.
Sobrevivemos.
Ainda hoje lutamos contra a miséria da fome, contra a fome da miséria,
Contra homens que destroem e contra outros que mentem que querem reconstruir.
Ainda hoje, aqui, ali. Em todo canto.
Em todo o mundo.

Somos os mesmos mudados,
melhorados graças ao Cosmos,
graças à pedra que é outra,
graças ao trabalho morto e vivo de nós mesmos.

Somos a Revolução dos Cravos,
mas somos a de Chico Mendes.
Somos os homens sabidos e idiotizados,
estilo de homem que nos fizeram.
Mas sabemos.

Alguns sofrem e o sabem.
Alguns não querem (ainda) saber de nada.
Como antes. Mas sabe-se que todo tempo de mudez
já não tem cabimento.
Sabemos.

O levante ainda se faz todo dia,
aqui ali Além: no Alentejo.
Sabemos que fomos Sara e Domingos,
sabemos que fomos todos os que sofreram Salazar
e sabemos que os daqui também sofrem como os de lá.
As palmeiras no final das contas, são as mesmas.

O sofrimento, a alegria de levantar o facão
pra capinar no que é seu,
a tristeza de parir e não ter o que dar de mamar,
a emoção de ver os olhos azuis
ou pretos do filho e lhe escolarizar.
Sabemos.

Levantamos ainda, estamos a levantar.
Aqui, ali e além mar.

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