DE MÃES E PRISÕES

Um homem foi preso de madrugada na rua onde moro. As vozes pasmas, mas caladas. E a sisudez da farda pegando nele e dizendo, sem falar palavra: você pegou o caminho errado meu rapaz.
Chovia um pouco, e a pressa daquele momento, o vexame daquele instante, a tristeza daquilo tudo, ficou maior. Fechei a veneziana e preparei um chá. Na cozinha, burburinho de vozes chorosas, ainda ouvi. Lamentos...
Também eu, lamento, mas amanhã cedo, que é hoje (afinal são três da manhã) a vida continua. Terei de sair com meu uniforme para o trabalho insosso e todos terão de preparar alguma coisa para o almoço. A vida é assim, não é?
No entanto, uma mudança ocorreu no coração da mãe daquela criatura, pois vê-lo daquele jeito, mãos com algemas, cabelo molhado pelos golpes da chuva, carregado por homens fardados, não é a melhor das visões para uma mãe. Nunca será.
Não quero saber o motivo daquilo. Mas amanhã é Sexta-feira Santa, isso tudo me fez lembrar outra Mãe chorosa, triste, ferida, quando da ocasião da prisão e morte de seu Filho. São filhos diferentes, mas a mãe parece a mesma.

Solineide Maria

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