VOCÊ É VICE-REAL...

Você é vice-real. Tem medo de tudo, quase. Sabe escrever, leu muito, pensa rápido e bem, mas não concebe emoções. Não sabe lidar com elas. Pior, delas, você foge.
Nascido para a vida.
É bonito ver você. Solto. Liberto. Empolgado. Vice-real, como as sombras dos que não suportam calafrios.
Você é bonito.
Desajeitado, descolado, desarranjado das coisas sensíveis, mas no duro? Você é frágil. Muito frágil.
Talvez, na sua intimidade, existam dragões maiores dos que dos seres normais. Claro, pois sendo vice-real, não há mais nenhum ser que se pareça com você.
E sendo vice-real, você instiga, incide à dúvida, deixa uma sensação de querer mais, mais, mais... Mas não existe esse mais de você.
A sua vice-aparição causa inquietude, porque você chega e sai ileso. Ela causa danos aos incautos. E quase todos somos incautos. Você não.
Sendo vice-real você é apaixonate, aterrador, chocante, lúdico e telúrico, forte, farto.
Você sai ileso de qualquer coisa. E qualquer coisa pra você é tudo. Quase tudo pra você é comum. Mas você se entristece, quando chega perto da linha tênue do querer mundano.
Maldito mundo real. Vida real.
Sendo vice-real você se assusta. E daí, toda a Literatura lida, escrita, resumida, deglutida por você, é derrubada por terra. Nada do que venha dela aquieta seu coração.
VICE-REAL!
Você sofre com a falta de tato com as coisas sutis.
Você é muito bonito assim, frágil. Sua sentimentalidade é guardada em potes de barro indizível, reforçada com areias translúcidas.
És frágil.
És belo.
Homem de algum dia, de algum lugar.
Você é vice-real.


Solineide Maria - 11/08
PARA AMEMÓRIA DE UM VICE-RELACIONAMENTO


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Análise do poema Olha Marília, As Flautas Dos Pastores - de Bocage

Poema para Pedro

Abacate