VÓ AUGUSTA

Quando era pequena, mais ou menos sete anos, as nossas merendas ou eram concebidas por mãos maternais ou vindas da casa da Vó Augusta.
Aliás que a vó Augusta era uma senhora magra, alta, branca, a qual chamávamos de vó, por ser muito amiga de nossa mãe, por ter um íntimo convívio conosco e, penso intimamente, por ter tido sempre, aquele ar de avó, jeito mesmo, e aquela mão cheia para doces e gostosuras tadvindas de uma cozinha típica de avó.
Ela fazia de tudo: amendoim torrado (carinhosamente embalados em papel de embrulho) bijus de coco bem molhadinhos, enrolados ainda quentes em folha de bananeira cuidadosamente limpas, e, a tão cobiçada cocada-puxa.
Sua casa, que ficava ao lado da nossa, tinha o chão vermelho, liso e limpo. O fogão à lenha, servia de palco para o surgimento das delícias que ela sempre inventava, ouvindo o louro (seu companheiro de muitos anos) tagarelando em seu poleiro.
Uma vez, presenciei a limpeza semanal que fazia na cristaleira antiga. Aquele móvel tomava uma parede inteira que dava no segundo quarto. Tanto carinho em seus olhos, tanta leveza em suas mãos. Ela limpava cada copo, cada compota, depois os punha de volta em seus devidos lugares nas prateleiras limpinhas.
Sentia alegria em ter uma vó postiça, já que a minha avó paterna morreu quando era pequena, dez ou onze anos, não me lembro, e a materna, não conheci. Então, essa vó com mãos tão talentosas para merendinhas, para colchas de retalho, para bordados em toalhas de linho branco, para lidar com a vida simples que tinha; representava bem as minhas avós.
Mais tarde percebi que aquela mulher, havia se tornado mais do que vó Augusta, acabou virando uma figura folclórica da infância de minha vida.


Solineide Maria - Para Na casa aonde estão os meus dias- livro de recordações que venho trabalhando. Ainda nos primeiros textos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Análise do poema Olha Marília, As Flautas Dos Pastores - de Bocage

Poema para Pedro

Abacate