Velha e recorrente infância

A infância foi-se indo embora, deixando um largo caminho pela frente a ser assimilado, concebido, amado.
Um caminho, muitas vezes medonho, às vezes encantador, às vezes solitário e frio.
Os amontoados de papeis, desenhos, riscos de inocência e paz que talvez nunca mais voltem, todos eles farão falta.
As várias brincadeiras todas, a sós ou reunidos, agora com outras crianças, na sala da casa na rua onde moramos.
A infância foi-se indo embora, mas ainda restam coisas que de tão fortes que existiram, visitam-me pela manhã e pela tarde, e pelas madrugadas.
Então, se as sinto tão intensamente vivas em mim, suponho que não deixam de parar de ir embora de mim.
Eu é que me vou embora das coisas. Caminho em torno de mim, como se estivesse indo ao meu encontro, penso que devo ter-me deixado perdida em minha infância.
Aquele puro estar sendo, puro pensamento, puro ser eu mesmo.
Eu vou-me indo embora atrás de mim.


Solineide Maria - em 2003

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