Aqui, data atemporal...

Sou estagiária de mim mesma. Não me condene por estar borrada em palavras quase incomuns. Não sei ser exatamente. Fujo das coisas que não brilham. Mas quem não foge? Por isso corri tanto em sua direção.
Queria ficar ao seu redor, no entorno de você. Minha luz, afinal, depois de muito tempo na penumbra.
Não me condene por arriscar tanto, tão insistentemente. Esfreguei muitas vezes as mãos para conseguir um pouco de calor, antes de conhecer um pouco do seu.
Eu não estou escrevendo uma carta, estou me declarando pela última vez.
Última vez por culpa de um destino que me empurra para longe de você. Não mereço a sua luz? Não poderia responder a tal questionamento nesse momento. Meu peito dói e minha cabeça não pensa direito e meu pouco estímulo está sendo gasto sobre as teclas deste computador antigo, mas útil e...
Gostaria de voltar ao e-mail inicial, onde escrevi apenas um convite. Outra vez a luz foge?
E o que deve ser diferente daquilo que tanto você quer. Não agradei por tanto insistir? Desculpe. Outra vez a insistência por questões definidas já.
Peço perdão. Há um poema do Vinícius que se inicia assim: “peço perdão por te amar de repente/embora o meu amor seja uma antiga canção em teus ouvidos”. Peço ao poeta a licença dos que se esvaziaram em palavras tolas e dedico tais versos a você.
Sinto muito por tanta tolice em plena era contemporânea. Época em que já deveria ter aprendido ao menos, que poesia e amor se entendem apenas, nas vielas belamente iluminadas das folhas em branco.
Não sei dizer adeus, no entanto. Não sei. Acho que não consigo. É isso. Não consigo, porque você foi a melhor novidade antiga que me apareceu nesses últimos tempos de paradeiro emocio-sentimental.
Uma pessoa triste é uma bomba. Escrevi isso no último e-mail. E é verdade. Ainda mais, quando tal pessoa viu a luz e a luz olhou, sorriu e se apagou.
Talvez, o imenso momento de silêncio noturno, entre a leitura mal feita e o sono mal dormido, consiga resgatar minha homeopática vida afetiva. Para voltar a ser com empenho, a estagiária de mim mesma, que sempre fui.
Ainda que tenha sido rápido, feito uma lufada de vento na primavera dos amores incompletos, eu agradeço por você ter aparecido.

Solineide Maria de Oliveira
Dedicado a todos que buscam um endereço definitivo para cartas, bilhetes, cartões, e-mails...

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