IMPERFEIÇÃO E EDUCAÇÃO...

    "Vamos celebrar a aberração
    De toda a nossa falta
    De bom senso
    Nosso descaso por educação"


    Tenho um amigo professor que trabalha numa escola pública faz mais de vinte anos. Aliás, tenho muitos amigos professores... Mas a história deste, em particular, é, no mínimo, dramática. Há três meses conseguiu terminar seu Curso de Matemática. Enfim, depois de quase ser jubilado (trabalhar, estudar à noite e tentar viver – não é fácil), recebeu seu tão “sofrido” Diploma de Licenciatura em Matemática por uma universidade pública aqui do Sul da Bahia.
    Ele estava feliz com seu Diploma, ganharia um pouco mais, porquanto agora tinha o Curso Superior. Qual nada! Ontem, por telefone, me disse que vai receber uns centavos a mais. E continuou, em seu desabafo mais do que lógico: “Ser professor neste país, é patético”. Como não concordar? Digam-me senhoras, senhores, senhoritas, mancebos, meninos, meninas e homo afetivos em geral?
    Quando acordei e fui tomar meu fraco café com pão e margarina (graças a Deus por isso), ouvi um moço na TV Cultura conversando com outro moço, o Dep. Raul Henri. Eles falavam sobre uma Lei da Responsabilidade Educacional.
    Antes de dormir, nas minhas preces, jurei três vezes que não queria mais ser educadora (e comecei faz pouco tempo...). No entanto, como jurei três vezes, era muito certo de que a promessa falhasse na primeira prova. Deu-me uma agonia na cadeira da mesa da cozinha, e quando ouvi o repórter perguntar “como é essa Lei deputado?” Corri para a sala e quis também saber do que se trata.
    Trata-se de uma Lei que ajustará as incongruências que acontecem com a Educação em todo o Brasil. Segundo ele, os pais dos meninos e meninas e homo afetivos em geral, da escola pública, não notam a má qualidade desta. Eu, de cá da sala da casa de minha mãe (“eu moro com meus pais”) respondi em voz alta ao deputado: Eles sabem sim, só não podem fazer nada senhor deputado!
    Tenho essa “mania” de debater com os repórteres e ganchos de jornais televisivos, quando me indigno com alguma notícia ou opinião (e vivo indignada). Acho que puxei a mamãe... Mas caio em muita armadilha... Uma delas foi a escolha do Curso Superior (Licenciatura em Letras). Sempre achei linda a profissão de professor (a) e minha professora dos primeiros anos de escola tem muito a ver com isso: ela era professora-pesquisadora desde antes de se “solicitar” que os professores o sejam.
    Voltando ao deputado e sua Lei... Meu irmão, que tem opiniões bem urdidas e engraçadas, disse que “está bom é de tudo se acabar”, numa postura de quem já está fatigado com tantas notícias sobre a Via Sacra da Educação e do Educador...
    Anterior à notícia dessa Lei da Responsabilidade Educacional, houve outra, também ligada à Educação (falta de educação familiar?) que disse assim: “o problema da obesidade deve ser discutido amplamente na escola, numa semana temática”. Não quis levantar para ouvir, ouvi dali mesmo, sentada à mesa da cozinha (tomando meu café preto com pão e margarina). Comentei com meu irmão sobre o assunto e desabafei: daqui a pouco teremos de abrir Maternidades nas escolas... Ele sorriu e deu a grande ideia de abrir também motéis para os pais.
    Lógico! Por que não se pensou nisso antes?! Os pais vão e... Vocês sabem... O casal engravida. Em seguida o rebento nasce e já tem uma vaga garantida na Creche da Escola. Essa criança é criada e educada lá. Apenas dorme em casa com seus “pais”. Na escola haverá uma cozinha em cada sala de aula, porque é cada vez mais frequente os alunos de escolas particulares e públicas chegarem com fome.
    Os alunos da particular chegam com fome pela manhã, porque a mãe foi para a academia e de lá vai para sua vida e o pai saiu cedo. Eles têm carro, mas o menino (a) vai de transporte para a escola... E mesmo que more ao lado da escola, perde o horário, porque dormiu às duas da manhã, ou jogando ou num site qualquer (não se trata de site educacional...). Os alunos da pública, vocês sabem, saem de casa (quando têm casa) por falta de pão, café e margarina (graças a Deus que ainda os consigo adquirir, com meu magro salário de professora de escola dos anos iniciais).
    Desse modo, poderia se pensar na construção de alguns dormitórios para alunos (as) que tenham problema de pais com falta de controle na disciplina do horário de dormir dos pequenos. Assim, a escola particular passaria a ser um planeta: o PLANETA DOS ABANDONADOS AMOROSA E EMOCIONALMENTE. No caso de ser entidade pública: PLANETA DOS ABANDONADOS DO AMOR, DA EMOÇÃO E DA SORTE.
    Para laquear minha tristeza, ouvi no rádio a música Perfeição de Renato Russo... Veja só, a vida é um mistério mesmo... Há anos não ouço essa composição no rádio e justo agora, nesse instante (06h35min da manhã), ouço tal bela harmonia!
    Perfeita é a maestria do poeta-compositor, mas penso que a “eventualidade” quis trazer a mensagem de que não devo me indignar tanto, já que “a felicidade não é deste Mundo”. Já que meu amigo continuará ganhando pouco e mal, já que a Lei da Responsabilidade Educacional, não alcançará os problemas causados por pais que querem TER filhos, mas não querem SER pais. Já que eu, com mais de trinta anos, não consigo rever o caminho profissional que comecei a traçar...

Comentários

  1. Gostei, principalmente porque você lembrou o Renato Russo. tudo se encaixou perfeitamente.
    Flora Maria

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