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Mostrando postagens de 2009

Desabafo

Não posso desejar que me entendas, nem eu Mesma sei o que pensar, quando a face do amor Se mostra estreita. Solineide Maria 27/12/2009
Desde que possamos considerar este mundo uma ilusão e um fantasma, poderemos considerar tudo que nos acontece como um sonho, coisa que fingiu ser porque dormíamos. E então nasce em nós uma indiferença sutil e profunda para com todos os desaires e desastres da vida. Os que morrem viraram uma esquina, e por isso os deixamos de ver; os que sofrem passam perante nós, se sentimos, como um pesadelo, se pensamos, como um devaneio ingrato. E o nosso próprio sofrimento não será mais que esse nada. Neste mundo dormimos sobre o lado esquerdo, e ouvimos nos sonhos a existência opressa do coração. Fernando Pessoa por Bernardo Soares, do Livro do Desassossego, p. 250. Editora Brasiliense - 2ª edição.

Bilhete Natalino - sem destinatário

Querido, Segue um presente com esta carta qualquer. O presente também é assim como esta carta, algo de algum e de talvez. Não lhe conheço ainda, não sei de onde vem e nem se virá... Já que é Natal, aproveitei para comprar, também, um panetone. Adoro panetone, pensei que se não gostar, pode presenteá-lo a alguém. São tantas sugestões nas vitrines, mas ao mesmo tempo tão poucas. Tão mínimas, ínfimas, tão quase nenhuma. Ainda mais no meu caso, não sei quem é você, não lhe conheço ainda... Tenho apenas uma vontade que seja assim ou assado, desse e não daquele jeito. Já lhe dei minhas características favoritas que gostaria que um homem apresentasse. Mas dizer que sei quem você é, seria mentira. Aliás, nunca sabemos, de verdade, quem somos e quem é o outro. Que outro? Nós no outro que criamos? O outro que nunca quisemos que abrolhasse? Meu Deus vela por mim que ando assim. Assim desse jeito... Solineide Maria 12/2009

Oração-pedido para São Francisco (sobre seivas e outros elementos que andam faltando no coração)

São Francisco, onde anda minha paz? Não a encontrei. Rodei a casa toda, o balaustro está vazio e o vento sopra umas mensagens que você enviou (correio bom), mas ineficaz para um coração abarrotado de ruídos. Onde, São Francisco, encontrar algo elemento tão sutil, neste ambiente que não soube refazer sem que restassem nervuras? Cadê suas criaturas-passarinhos, revoaram para que lugar: qual árvore os abriga agora? A que se avizinha de minha vida, anda silenciosa e triste e, pior, abandonada. Tende piedade de mim querido Amigo dos ventos, dos pássaros, dos peixes, das árvores, da vida enfim. Traz um pouco de seiva para mim. Solineide Maria – Para O Livro de Orações da Mulher (em revisão, para edição).

CASAMENTO DE REGINA E TIAGO (pequena reflexão)

Hoje uma sobrinha vai se casar. Essa atitude de unir sua vida cotidiana a outra, é, no mínimo, corajosa. Não sabemos o que vai acontecer direito , sabemos que a vida será diferente de antes, mas não temos garantias... O outro, aquele que admitimos em nossa vida, pode mudar ou mostrar sua verdadeira face. Pode não nos entender direito e nós da mesma maneira. Uma coragem dividir casa, cama, mesa e banho. Se não fosse "o sentimento" essa ocorrência, casar , não seria tão frequente. Lógico que existem muitos tipos de uniões viciadas, algumas acabam em cadeia e guerra judicial. Mas não é este o caso. O caso que narro começou a se dar quando ambos os noivos eram adolescentes, hoje eles tem 25 anos de idade cada. Trata-se de um encontro de duas criaturas que decidiram, mesmo, experenciar o amor numa união conjugal. Pode-se, dessa maneira, crer em algum tipo de luz no fim do túnel das dissentimentalidades humanas, nessa tal contemporaneidade. Seja feliz Regina e Tiago! Tia Solineide

Suor e quase lágrimas por uma geladeira econômica (popular)

Uma agonia a entrega da geladeira econômica para o povo. A maioria não era tão povo assim... Mas todos saíram com suas geladeiras brancas, econômicas . Até aí tudo bem. Mas à tarde, chegou um pessoal para "discursar". Dizer coisas não muito verídicas, sobre a entrega dessas geladeiras econômicas e outras palavrinhas mais. Se é popular eles aparecem, mas visando lucrar, amealhar, barganhar. Entende? Uns, cansados, escorriam em suor e quase lágrima, tarde de duzentos graus de calor! Outros, gritavam "felizes" o nome daquele moço que iria falar... Quanto tempo, e a gente não cresce, não muda, não nada. Havia de tudo por lá e todo tipo de gente, todos almejando alguma coisa: um cargo, um emprego ou mesmo a foto no jornal. Uma criatura gritou "lindo"! Lindo era o político que estava prestes a falar coisas que em toda eleição se diz. A pessoa que gritou, era uma professora formada em Pedagogia. Por qu é mesmo que a Educação está passando tão mal? O circo dos ho

Outra declaração de partir

Meu barco de te encontrar Perdeu um pouco o jeito De lidar com ondas altas Quis descansar. De Solineide Maria verso do poema Outra declaração de partir .

Sobre amigos

Ser amigo é ser sincero. Denunciar a verdade, falta de verdade ou nada de tão sério. É animar o outro, mas não mentir. É falar na cara e, se ferir, pedir desculpas sinceras. Mas perdir. Às vezes, ser amigo é coisa muito difícil, porque temos de acordar o outro de grandes devaneios. Ser amigo é não ter papas na língua, mas não tê-las com jeito. Amigos ferem, mas sabem fazer curativos que não deixam cicatrizes. Às vezes amigos deixam grandes cicatrizes: são aqueles que partem e não voltam. Amigo é assim, coisa mais difícil de encontrar. Coisa mais difícil de manter, coisa divina de merecer. Tenho poucos amigos, mas os que tenho, sei que são verdadeiramente amigos . Feliz Natal Bruna Bispo - 2009. Solineide Maria

Barco na hora de voltar, chorando

Malas prontas e nenhuma vontade de voltar. Também, para onde ir com tanta angústia? Por quanto tempo se sustenta um desamor? A lembrança do balouçar de um lustre antigo sinaliza a lembrança de que a porta está aberta. Fechar, então, a porta é a única coisa possível, já que não se pôde fazer nada contra a convulsão absoluta de choro e dor que desmoronou. Antes mesmo de voltar, chorou e soluçou. Solineide Maria - Livro Ali longe no mar - sendo revisado pela Scortecci .

A ENXURRADA

A enxurrada de gente escoa para o metrô. Cada pessoa uma gota de esperança, sobretudo, mas esperança é bicho frágil... A enxurrada de esperança escoa para o metrô, desce os degraus, entra nas frestas que as levam para lugares diferentes. Cada gota vai prum canto, mas sozinhas, dispersadas, perdem o encantamento e a força. Cada gota separada, não diferencia nada, tornam-se coisas egoístas, pensam apenas em regar suas plantações de sonhos, querem um rio inteirinho para si, não olham a gota de esperança vizinha, desidratando. Gotículas separadas não sopesam, não compartilham. Juntas, elas compartilham? Naquela embarcação moderna, elas compartilham? Compartilham as frestas, ou estão ali porque estão, e pronto? Perde a graça aquela enxurrada, quando escoam para lugares ímpares. Então, a inutilidade da multidão em que se transformam, deixa uma dúvida pertinente, que atravessa o meu dia: − É uma enxurrada de esperança, ou de egoísmo? A enxurrada tem força que nunca saboreou, não do

Inscrições sinceras para 5 lápides

Aqui jaz Ninguém. Rosto invisível, Luz rouca, Desdém. Aqui jaz Aqui. Derivação Incomposta. Aqui jaz Ali. Verso que não Reconforta. Aqui jaz Aquém. Braços, Pernas, Costas. Aqui jaz Além. A onde? Esquece. Solineide Maria 2006

CUIDADO, pessoa treinando...

Hoje quero desenhar uma flor bem bonita, porque é difícil desenhar fadas. Ouvi dizer, que quando treinamos, conseguimos fazer qualquer coisa mais facilmente. Eu até acredito, mas por que já desenhei algumas vezes o caminho de encontrar o prumo e não consegui ? Desenhar inúmeras vezes não seria treino? Viver é treinar, eu penso. Treinar até conseguir... Então hoje quero desenhar uma flor bem bonita, porque é muito difícil desenhar fadas. Solineide Maria 02/07

4 coisas a saber (sobre certo eu-lírico)

Eu às vezes ouço vozes que não escuto. Eu às vezes vejo coisas sem nome. Eu muitas vezes falo palavras que não existem. Eu quase sempre amo pessoas que não se dão. Solineide Maria - 2006

Amor de moleque é de verdade

O cabo da pá caiu na cabeça do pato. O menino previu aquele perigo. Quando a pá atingiu o bichinho ele viu, assistiu a tudo. Foi um tempo infinito até chegarem em casa. A mãe do menino fingiu que não era sério. No fundo, ela sabia que a ave corria perigo. Ela não quis magoar seu filho. Ser mãe é fogo. Não teve jeito. A ave adoeceu e morreu. Chiquinho ficou um caco. Enterrou o bichinho e ficou do lado daquele túmulo um bocado de tempo. Amor de moleque é de verdade. Solineide Maria - 2006 - Para o Livro casos do Chiquinho

Toda Teoria é (quase) triste ( o contrário também é verdade)

A mulher jogou em cima de mim, um calhamaço de textos e disse: Isso aí é teoria . Tristemente pensei: quero é ler poesia. No outro dia ela falou sobre a teoria. Pegou a minha mão, pediu atenção, pediu coragem. Falou num tom de lilás sobre poesia. Confortada, senti um pouco de alegria. Quando cheguei em casa, muito cansada, desisti de querer entender tudo. Quero saber agora sobre nada. Aquele nada inicial, antes das questões esquematizadas. Antes de tudo era só poesia. Reinava no horizonte que viria. Ela guiava os homens pelos muros invencíveis da agonia da falta de comunicação. Para Pina Segundo Semestre de 2008 Solineide Maria 2008

Vasta é a poesia

Vasta é a poesia, coarando no quintal as palavrinhas. Todas vêm molhadas de minha cansada e eterna nostalgia. Eu, vasta de nada. A poesia não, a poesia é vasta. Eu, às vezes, sou vago estupor. Sou como a vastidão do nada, que existe a percorrer toda calçada. Não sou feia, não sou bonita. Não sou vilã, nem mocinha. Vasta é a poesia. Eu não sou nada. A poesia, ampla e vasta, igual ao universo que transpassa, Ela é telhado de pureza, imensidão bicolor. A poesia é meu amor, mãe da vida, cantora da morte. Eu? Sou algo que ninguém vê e que não se diz. Sou o mesmo que o poema que não sabe (ou não deseja) nascer. Vasta é a poesia! Solineide Maria 2006

PRECISO AMAR QUIETINHO, QUIETINHO (feito uma cortina invisível)

Aprendi que nunca sei amar. Que não sei, ao menos sem falar. É que as palavras querem participar Estar, caminhar pela vida de fora. Aprendi que não sei esconder Que não sei ir dormir com palavras nas mãos. Sempre foi assim, de repente olha ali, Olha aqui, olha a minha intenção... Mas não da para ser assim eternamente As pessoas se escondem, recuam, Ninguém quer falar, ouvir, entender As palavras que dizem coisas de se ofertar. Preciso desaprender este amar falante. Procurarei no baú dos silêncios Um amar quietinho, quietinho, Feito uma cortina invisível. Solineide Maria 07 de setembro de 2009

Oração Dominical (de noite na cama) depois de tudo...

Meu corpo é fraco Senhor. Minha vontade é fraca. Meu espírito sofre essas tendências... Mas quero ser forte! Liberta-me de mim. Desses desejos... Faz-me melhor, já que vontade tenho. Inunda-me de Ti. Apenas de Ti. Faz-me outra, melhor, ampla de luz. Farta estou desse nada carnal. Cansei, também, das palavras que mentem: companhia, amor, afeto. Até elas andam cansadas... Meu discurso necessita ser efetivo. Não pode ser (mais) esse vão, em vão. Só Tu és a fala que não mente, o amor que não esvazia. Solineide Maria 9/10/2009 Para O Livro de Orações da Mulher - no prelo.

Da VIOLÊNCIA aos pudores

Meias, panetones, malas. Até quando mais essas violências todas? Solineide Maria

Oração de sexta-feira à tarde - da mulher solitária e/ou mal acompanhada

Meu Deus... Tire de mim a vontade de deitar com um homem, e querer ser ditosa com ele para sempre e não ser feliz. Porque ser feliz vem de amar, antes de deitar. Deitar-se com um homem é pouco. Arranque de mim a vontade de fazer coisas com as mãos carnais. Dá-me as mãos espirituais, que nunca soube conseguir. Aquelas que tocam o coração em festa. Lamento ser tão pouco. Ter tão pouca prova de sabedoria, lamento. Lamento mais: ser quase escrava da ilusão de indivíduos que circulam e passam e nem dizem que me amam e me consomem, inutilmente. Muito mais lamento, me deixar escravizar por essas ilusões que tateiam a minha pele, se apoderam de minhas veias e atingem (em cheio) o meu coração. Seja Tu meu Companheiro solene. Convide-me para andar ao luar no Jardim de Suas Verdades. Convide-me para visitar as margens de algum rio ainda belo, ainda limpo, ainda rio. Seja Senhor, Tu, Aquele que vem porque deseja, porque seis horas haverá um sarau perto da igreja, e, depois, poderíamos sair para re

MAS TUDO BEM

Hoje estou numa canseira danada. E nem sei se é cansaço mesmo, ou dissentimentos que afetam meus afetos. Não sei mesmo o motivo de continuar sonhando umas coisas que se fazem tão distantes. Mas tudo bem ... Mesmo que esse bem esteja em itálico. Uma noite mal dormida é mesmo uma coisa chata. Ficar pensando e não poder fazer nada, nada de nada. Lembrei de um amigo (de verdade) que me aconselhou a ser mais irresponsável. Talvez seja isso: um pouco de irresponsabilidade nos deixa mais leves. Afora as decepções, culpa de minhas intencionalidades pueris, estou até “bem”. Mesmo que esse bem esteja entre aspas. Ontem, quando cheguei em casa, me deparei com uma conta a pagar. Pois é... A vida são contas a pagar. Contas que a gente nem sabe por quanto tempo mais irá pagar. E graças a Deus quando pagamos. Mas e nessas questões sentimentais: quem vai pagar a conta dos desencontros? Nós! Também são contas nossas. Melhor quitá-las em tempo. Coisa mais complicada isso, viver pagando por tudo... Dizem

Eu quero um poema.

Eu quero um poema. Você tem? Me dá um poema pra sentir. Para ler e acordar. Não quero discutir poesia. Deixa aqui perto da cabeceira, Da mesa da cozinha, Perto do fogão. Traz um poema pra mim... Queria ler um poema calmo Para abrandar meu espírito Que de tão insosso, não quer mais Ser insosso. Chegamos ao ápice da falta de poesia. Cheguei. Por favor, traga um poema para mim, Desses que n ão, nunca vi . Solineide Maria de Oliveira 2009

BETE PARTE TRÊS

Bete aspirava a felicidade, mas a frustração sempre a acompanhava de perto. De longe também. Uma vez, foi por algum tempo, quase feliz, mas Bete queria mais. Queria ser feliz totalmente, cem por cento mesmo. Bete sempre queria cem por cento. Ela nunca se deu conta de que essa conta fechada não existe na vida. Às vezes parece existir, mas é pura invenção. Só que Bete não ouvia ninguém e nem queria saber de mudar de opinião de repente, ela sempre queria ver pra crer e sempre, mas sempre, se dava mal. Bete nunca aprendia... Seguia, então, Bete, aspirando a felicidade, que para ela, estava metade no amor e metade na vida cotidiana. Era assim, para ela tinha de ser cem por cento, meio a meio, tudo certinho, no lugar. E nunca se dava conta de que essa conta não fechava em momento algum. Bete sempre acreditava que no outro dia, da próxima vez, na próxima relação, quem sabe, quem sabe... Só que dessa vez Bete não estava mais tão empenhada na aspiração da felicidade, sentia as pernas e os pulmõ

Oração de segunda-feira (da mulher ca(n)sada e solteira)

Fazei com que esqueça a poesia, porque ela me deixa lúcida. Não dá trégua ao meu pensar que anda cansado. Quero descansar, ser feliz na bobagem. Por favor. Deixai-me sair por aí achando lindo não ter nada a dizer, ao mesmo tempo em que os outros zombam de mim e eu, tacanha, sorrio sem entender o que dizem. Fazei-me Senhor, com que, desiludida e tola, caia de vez no terror das idiotices humanas: programas vespertinos de domingo à tarde, falas mentirosas de homens que apenas desejam sexo e doses de mentira que inebriam. Elas não saciam, mas alienam a mente e fazem vir um sono esgarçado, mas sono. Não me deixes cair em pouca tentação. Fazei com que sejam muitas. Todas imbuídas de um terror humano horroroso. E, depois, eu, mais frágil ainda possa me desfalecer em desculpas que o Senhor não as atenderá. Não sou digna de que entreis em minha morada, nunca fui. Deixe-me ruir até virar novamente pó, barro, material que pode vir a ser reelaborado. Por favor. Solineide Maria de Oliveira De O Liv

O OUTRO LADO DA CIVILIZAÇÃO (Viva a usina termoelétrica)

Qual é a do tempo hoje? Nem abra a janela, não vai dar praia. Não vai dar jeito de respirar. Olha que céu cinza meu amor... Mas tem chuveiro quente, Tem carro ultra-rápido, Tem computador do tamanho da mão. Tem tanta coisa... Tanta... − É. A gente é tão feliz... Tem praia no telão. Água no telão. Tem ar puro no telão. Árvore no telão. A gente é tão evoluído... A gente ta com tudo. Tem usina termoelétrica. E no telão tem até o que não tem mais: Que emoção... Para Luísa minha sobrinha afilhada (15-09-2009)

A laje

Na laje está tudo arrumado. As mesas, duas, dessas de plástico, forradas com toalhas coloridas, muito vibrantes. As cadeiras e os bancos também estão por ali; tudo muito despojado, típico de um dia de domingo na laje. Muito calor, muita cerveja. Para os pequenos, guaraná em garrafas de dois litros e muitos copos plásticos. Devagar chegam os convidados, metade do pessoal é da família, mas tem os amigos e os colegas de trabalho, e seus respectivos filhos. Ajeitando-se, eles sentam nas cadeiras, nos bancos, alguns ficam encostados em alguma parede esperando a carne assar. Do outro lado o churrasqueiro arruma os espetos, vira e mexe, pinga um caldinho por cima das carnes, elas respingam na brasa, é quando se sente aquele cheiro típico de carne de churrasco em dia de domingo na laje. A fumaça acalma, e a visão da carne douradinha, saliva a boca, abre o apetite. Não dá mais para agüentar (nem mais um minuto) essa é a sensação. O desejo é pegar um tasco bem grande e tirar do espeto buliçoso c

SÁBADO

Outro dia acordei e era sábado. Então, pus-me a pensar no que fazer, já que o dia pedia que dele me apropriasse. A dúvida surgiu terrível e grande: sábado é feito para quê? Principalmente quando brilha num azul inesperado de inverno? Namorar não dá, porque estou sozinha e já nem sei se gostaria de não estar. Perdi o jeito de ser acompanhada. Perdi a paciência com o outro e não sei, sequer, se o outro gostaria de estar acompanhado desse meu sábado e de minha acanhada pessoa enjoadinha. Um sábado é para passear? É para sair e comprar quinquilharia? Ou serve para comprar mantimentos e arrumá-los muito vagarosamente na dispensa da cozinha? Perder esse sábado não é perdoável. Ou melhor, não seria, pois ainda na cama com as cobertas, lembrei que existem umas roupas que exigem limpeza. Um sábado inteiro então, surgiu para perder com as coisas práticas de minha vidinha... Depois fui lembrando de tantas coisinhas: da comida esperando o seu concebimento para logo mais (o almoço) e para toda a se

O silêncio

Exceto a luz do enfeite natalino que brilha pendurado na janela do prédio vizinho e ultrapassa a janela da sala em penumbra, piscando em cores multicoloridas, não há nada mais que anuncie dentro da casa algum tipo de vida. Digo, vida além da minha andando pelo corredor que liga os cômodos, numa ansiedade meio tédio, meio tristeza, meio amargor. Ainda ontem um amigo perguntou-me com um entusiasmo frenético, onde iria passar a noite de Natal. Respondi seco e rápido: em casa. Ainda assim deixou o convite de passar com ele e sua família a noite do nascimento do Menino. Naquele momento não tinha idéia de como a solidão em noites assim é cruel, e nem me dei conta de que há um mês estava separado. Poderia, se tivesse entusiasmo, ligar para aquele amigo e anunciar que precisava de companhia para tal noite, e aceitar o convite refutado em noite anterior. No entanto, não encontrava nenhum ânimo para pegar o telefone e discar os números. Lembro-me do último Natal em casa quando ainda estava casad

PARA RAFAELA GUIMARÃES

A amizade é um pouco mais do que o amor, dizem. Também creio. Porque o amor (esse mundano) não experimenta da paciência e do zelo de uma sincera amizade. Esse amor “comum” é traiçoeiro, às vezes cansa, às vezes acaba. Às vezes nem existia... A gente às vezes inventa alegria; entendo quem inventa o amor. Mas a amizade, essa não há quem invente: ou é ou não é amigo. E todo mundo sente quando o amigo é sincero ou passageiro das horas, o “colega” como é mais usualmente conhecido. A amizade não tem hora. O amor, esse, que aparece e some num triz de nada, lá esse tem. O "colega" também. Salvador, dia 21/12/2009, receberá de volta, Rafaela Guimarães, depois de quase dois anos de idas e vindas para a UESC – período em que terminava sua Pós em Pedagogia. Entregará o Artigo final e será minha amiga eterna. Amizade que nasceu nas aulas de Língua Espanhola, onde era discente por opção. Reconhecemo-nos como amigas. Rafa, minha AMIGA, Vai para Cuba, onde iniciará e dará cabo, com louvor, d

O amor, não sei...

O amor, disseram, é tal fogo que consome, É labareda que instiga uma fome Trilha que perde e de repente triste se faz. O amor, disseram, é um farol Que se distrai. O amor Palavra mal empregada quando emitida Pois a maneira para que fora inscrita há muito anda esquecida. O amor não sei: parece luz, Parece fogo, parece brisa. E este meu amor, querido homem, Agora sopra uma certeza que já não sabe Nem onde e nem quando se assegure. Talvez exista porto, casa, peito, Paragem. Mas é que o medo agora está Mais forte, Que a labareda que um dia ansiosa Soprou unânime, Em meu peito uma mensagem. Também queria te encontrar... Num espaço e tempo ainda possível Para te amar. Seria, no entanto, auspicioso? Fornalhas entristecidas Podem voltar a foguear? O amor, disseram, É um contentar-se de descontente. Talvez por isso melhor seria Erguer aos céus milhões de preces Para este lírico amor desencantar. Solineide Maria Junho de 2009

Olha Luíza, como estão tristes!

Olha Luíza, como estão tristes! Os teus tão solitários aluninhos Todos murchando, quando não, murchinhos! Por este pátio afora coitadinhos. Olha as árvores ceifadas do bosquinho! Foram muitos os pobres passarinhos Desencantados fora de seus ninhos. Feito quando perdemos seu carinho. Tornaram nosso olhar assim vadio. Cansamos por acreditarmos tão sozinhos! Em uma educação que pende ao vazio. Solineide Maria Para Maria Luíza Mestre em Psicologia da Educação (com carinho)

A QUEM INTERESSAR POSSA

Na minha universidade estão cortando árvores. É que ela está crescendo fisicamente. Vão construir um Laboratório perto do pavilhão de Letras: Adonias Filho. Arrancaram muitas árvores... Eram árvores cinquentonas, penso. Ou quarentonas? Centenárias? Jovens, nos três casos. Fiquei triste por elas. Não me animou também a questão do Laboratório: é para o povo de Bio, Medicina, Química etc. O povo de Letras não tem uma saleta simplória com melhor acústica, para aulas de Línguas... "A cada um segundo suas obras". Será essa, a mensagem? Como sou meio melancólica, deve ser muito olhar pra pouca paisagem. Ou o contrário... Vamos festejar o Laboratório de Química e ser feliz... "Mas a UESC está limpa e bonita feito sempre", um colega me respondeu assim, quando me queixei das árvores... À leitura então: estou lendo Paulicéia desvairada. Ainda hoje é moderno. Incrível né? "Atemporal minha linda", diria um amigo paulistano. “Sobra” ler. Trata-se “mesmo” de uma pitada d

Quero

Quero a noite dos dias claros. Depois, de tanto descansar, pedirei outros dias claros, sol a mil. Para onde mais eu for, pedirei companhia, não muita, mas para estar perto, segurando meu cacho de dúvidas, pencas de problemas, ilusões perdidas. Que seja alguém liso, calado, alguém quase uma bruxa boa, sem voz, exceto a mínima, para dar boa noite, bom dia e rezar comigo: Pai Nosso de todos os lugares, que tudo em todo canto esteja calmo, e que tudo o que me aconteceu, seja para correção minha, e que tudo o que há de vir, seja o melhor para mim, mas Pai, que eu seja bondoso com os outros e com a terra, com os que estejam de acordo comigo e com os que discordam, me ajude à calar porque é difícil, e à falar somente o necessário, Pai Nosso de todos os lugares, não tenho mais vontade da realidade, quero estrelas outras, outros rumos, outros ais. Amém E que essa criatura seja calma, seja muito calma, pois eu já não sou mais. Solineide Maria 24-02-03

NATAL DE CIDADE PEQUENA

A procissão passa nas ruas: velas, lenços, velhas. Velhas canções de Natal, do verdadeiro Natal. Nas casas estão as árvores: são pequenos coqueiros, grandes, muita criatividade. Planta de cactos enfeitados com bolas, com brilhos. Estrela. Estrela de papel laminado, papel lustroso, papel de presente... Papelão pintado com lápis de cor, mas estrela Algumas casas exibem galhos secos, cobertos com algodão. Neve de isopor. Todas são lindas. Debaixo delas, bem ao centro, há uma pequena criança deitada. Um bebê. Imagem em barro, plástico, madeira... Neve de isopor. A procissão vai para a Capela. Ruas, velas, fé? Velhas canções de Natal. Fé! As crianças sabem do que se trata o Natal, Os mais velhos respeitam a Data e alegram-se: Eis a nova esperança! Todos os anos renasce uma criança em nós, mas sabem disso aqueles que conhecem as verdadeiras árvores de Natal. Árvores que imbuídas de simplicidade, são mais firmes. Árvores que resistem aos ventos fartos e fortes do Natal outro, esse outro Nata

ABACATE

Quero amadurecer quando for colhida. Lá na minha árvore, lá no meu pé de mim, embirrado e miúdo, quero ficar até que você olhe. E minha casca, lisa e brilhante, não será prejuízo. Minha polpa agradável e leve, será para você, minha paga, sua recompensa. E não acelere o processo de maturação, porque meu coração verde musgo, já lhe pertence. E quando for me usar, abuse de tudo em mim, e plante lá na minha árvore, ao lado do meu pé de mim, o meu caroço, de volta. Que sou doce, ou salgada, como quiser, vou ser seu abacate, acate, cate, ate. Até. SOLINEIDE MARIA 2002

DELE

Um dia ele vai entrar e dizer coisas imcompreensíveis e vou escutar, entender, acatar. Solineide Maria
Porque hoje em dia ninguém ama e pronto. Ama e quer cama. Ama e quer lama: Quer os destroços do outro, A tristeza do outro. Até em prestação: a dor do outro. Nunca é bastante amar. Nunca é bastante querer bem. Deixe de bobagem: Ame. Mas apenas se for verdade. Senão, cale e reze uma Ave Maria antes de dormir. Amém. Solineide Maria de Oliveira
Olá a todos! Estou arrumando esse espaço. Vão gostar sim! Serão poesias minhas, crônicas e outras coisas, como o nome já indica. Um cantinho para acalmar o coração e instigar, se quiserem. Encontrarão refresco para as ansiedades e quietude para a alma. Tudo em palavras. Um abraço poético! Solineide Maria POETA/ISSA!